Acreditamos de coração que Homem-Aranha: De Volta ao Lar pode ser o melhor filme da Marvel já feito. E você?
Há alguns anos atrás, ser um nerd implicava em ter, em sua lista de sonhos, um dia ver um filme do Homem-Aranha debaixo das asas da Marvel Studios. Inspirando uma nova leva de filmes de heróis em 1999, o aranha de Sam Raimi conseguiu cumprir bem a essência das HQs (com as devida adaptações), atingindo a excelência com o segundo filme, até hoje considerado o melhor entre muitos fãs do meio. Já no terceiro e péssimo filme, a Sony (dona dos direitos do personagem nos cinemas), impôs tanta coisa goela abaixo no diretor que o desgaste foi irreparável.
Precisamos de um espaço para falar do pouco Espetacular Homem-Aranha de Mark Webb, a segunda e principal mancada da Sony com o personagem. Além de não escalar um ator compatível com a idade do personagem para um recomeço, houve uma equivocada leitura do que o personagem é e representa, junto a uma necessidade de modernização para se adequar à geração atual de jovens. O resultado foi um Peter Parker valentão, e a intenção de replicar esse universo em filmes derivados. Não rolou.
Felizmente, hoje tudo isso é passado. A Sony percebeu que poderia ganhar muito mais dinheiro com o Homem-Aranha através de um acordo com a Disney (dona da Marvel), além de não precisar mais responder por cagadas criativas com o personagem. E assim foi possível conferir a primeira aparição (mesmo que apressada) do personagem em Capitão América: Guerra Civil. Para celebrar esse novo recomeço, o primeiro filme solo do Homem-Aranha, agora sob a tutela da Marvel, ganhou o oportuno subtítulo Homecoming (De Volta ao Lar no Brasil).
Por que pode dar certo?
Encontrar um terceiro Peter Parker em menos de duas décadas de cinema era algo arriscado, e o acerto foi certeiro. O britânico Tom Holland se mostrou a escolha certa para o papel, começando pelo seu aspecto físico. Ademais, em cada entrevista ou olhada em seu perfil nas redes sociais vemos o quanto seu espírito moleque condiz com o humor e a ação do Homem-Aranha, onde ele fala sobre a forma inusitada com que foi escolhido para viver o herói, dentre outros causos, como na sua marcante passagem pelo Brasil para promover o filme junto com Laura Harrier, que dará vida a Liz Allen.
Falando nela, há uma interessante ousadia no elenco escalado para De Volta ao Lar. Junto com Ned Leeds (Jacob Batalon), melhor amigo de Peter, Michelle (Zendaya, Mary Jane?) e o Flash Thompson vivido por Tony Revolori (excelente em O Grande Hotel Budapeste), há uma significativa mudança de etnias aqui, resposta contra aqueles que defendem o racismo estrutural que imperava nas HQs da metade do século passado, onde os personagens eram sempre brancos e héteros. Ver, com esses jovens, emulado o ambiente escolar vindo das HQs, juntamente com a declarada inspiração em Clube dos Cinco (e filmes de John Hughes em geral), parece um imenso acerto.
Ainda no casting temos o Abutre, o vilão da vez, vivido por Michael Keaton. O ex-Batman alcançou sua redenção recentemente em Birdman, uma obra prima que contou a história de um ator agarrado ao há muito tempo passado sucesso de um personagem heroico, onde não consegue emplacar nenhum novo projeto sob a vigilância de si e da crítica especializada (junto com uma justa crítica aos comicmovies atuais). A ironia continua agora com Homem-Aranha: De Volta ao Lar (já que seu personagem também possui asas), e foi uma grande sacada a solução visual apresentada para o seu traje no filme. Sem contar a premissa, onde ele lidera uma gangue que recicla o lixo deixado pelo Homem de Ferro e os Vingadores em suas épicas batalhas.
Isso aparenta um envolvimento bastante orgânico com o tão falado MCU (universo compartilhado da Marvel nos filmes e séries), atenuado significativamente com a presença de Tony Stark e o Homem de Ferro no projeto. Desde Guerra Civil, o herói eternizado por Robert Downey Jr. age como uma espécie de tutor de Peter Parker, desde o financiamento escolar até questões morais envolvendo sua conduta como herói (falaremos dos riscos disso no final).
O melhor de tudo nessa questão com Tony Stark é, definitivamente, o uniforme do Homem-Aranha. O efeito prático usado no visor é de uma sutileza incrível, realçando as expressões do herói, provavelmente algo inspirado em Deadpool. As já mostradas teias no sovaco também dão um charme único, ao mesmo tempo que referencia a estética dada por Steve Ditko (criador do personagem junto com Stan Lee) ao personagem. Há algumas soluções práticas dignas de aplausos como o auto-ajuste às medidas físicas do protagonista. Melhor ainda é saber que em determinado momento ele estará sem nenhum desses recursos, onde ele precisará se provar como herói sem as regalias da vida financeira que tanto adoramos, virada importante do filme que foi equivocadamente revelada nos trailers.
Deixando o monstro da expectativa de lado, há alguns pontos que precisam ser ponderados como potenciais problemas no filme. O primeiro e mais evidente é o tamanho da participação de Tony Stark, onde há muito material de divulgação e cima da figura do Homem de Ferro e, se usado em excesso no longa, pode prejudicar toda a trajetória de Peter. Uma forma disso macular esse novo Homem-Aranha seria com Robert Downey Jr. fazendo o que Tio Ben representa, por exemplo. Outra questão são os efeitos especiais, que em alguns momentos parecem um tanto genéricos e de uso exagerado, talvez reflexo da inexperiência do diretor do filme, Tom Watts. Não pecar pelo excesso é um desafio para todos, incluindo o amigão da vizinhança.
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