Não é Grafite. É Pixo
Um breve passeio por São Paulo (além de outras grandes cidades brasileiras) e é inevitável: deparamos com muros, calçadas, portas, pontes e até prédios pichados. Vítima do próprio rótulo de que não pode parar, a cidade está tomada pelo caos urbano na forma da verticalização e do transito quilométrico. É difícil que alguém tenha voz nesse cenário.
Em Pixo (2009), os diretores João Wainer e Roberto T. Oliveira nos apresenta o impacto da pichação como fenômeno cultural, chamando atenção inclusive internacional. Junto com a discussão a respeito da polêmica se o “pixo” é arte ou vandalismo, o documentário propõe uma nova visão sobre a cidade de São Paulo.
Sempre cresci com a ideia de que pichação é vandalismo. Acostumado com as paredes lisas no interior do estado de São Paulo, nunca me esqueço da primeira vez que passei por Carapicuíba e contemplei nove em cada dez paredes marcadas. Sem entender o que significava tantos símbolos, tive noção de que era algo significativo quando ouvi uma história sobre uma tentativa frustrada de pichação no enorme prédio sede dos Correios em frente à CEAGESP-SP.
Desmitificando o estereótipo de que quem pratica tal ato é necessariamente um bandido (pelo menos na forma tradicional que conhecemos como ladrão), somos apresentados a esse submundo onde há um comportamento peculiar. Nem todos pichadores são do mesmo tipo, há os escaladores que pintam lugares altos como edifícios, e os mais tradicionais que pintam muros. As motivações de cada um também sofrem desse efeito diversificado. Uns fazem por pura anarquia, outros por ego, por protesto, e por aí vai. Esses diferentes indivíduos interagem entre si, se apoiam e se chocam em algumas oportunidades. Repare na cena da reação do José Serra ao receber um “desenho” de um pichador, retrata bem a ignorância a respeito do assunto.
A origem do movimento também é explicada com raízes de pontos diferentes, como influência do heavy metal e punk, ditadura militar e os percursores como “Cão Fila K26”. A tradicional tortura policial está presente é claro, assim como os danos físicos que se pode sofrer numa eventual escorregada durante uma escalada.
No entanto, uma das grandes mensagens de Pixo é a crítica ao grafite, que se tornou na visão dos realizadores uma arte (vazia) periférica para os ricos apreciarem, e a arte tradicional não escapa desse julgamento. Assim o documentário de Roberto T. Oliveira e João Wainer (que também dirigiu Junho – O Mês queAbalou o Brasil, 2014) nos mostra com competência o que propõe, sem finalizar o assunto e sim abrindo as mentes de quem quer realmente enxergar e discutir. São cerca de 60 minutos que passam voando.
[ATUALIZADO 18/01/2017] As iniciativas do atual prefeito paulistano João Dória têm se mostrado mais voltadas para o marketing do que a discussão e devido esclarecimento do tema. Mesmo para quem argumenta ser contra a prática, fica aparente o incômodo criado na cidade.
Pixo está disponível gratuitamente no Vimeo.