Nessa altura do campeonato, acho improvável que alguém ainda duvide da capacidade de James Gunn de fazer absurdos com personagens do terceiro escalão das HQ’s. Se os dois filmes dos Guardiões da Galáxia não foram suficientes, o diretor se aproveitou da liberdade dada pela DC Comics e entregou O Esquadrão Suicida. É desse último exemplo que surge o Pacificador, que agora ganha uma série própria na HBO Max para provar que ainda não vimos todas as loucuras que o personagem é capaz de fazer.
Meses após os eventos de O Esquadrão Suicida, Pacificador (John Cena) está recuperado e liberado do hospital. Após um hilário diálogo com o zelador do local, que dá o tom do que veremos ao longo dos episódios, ele acredita que pode fugir do governo e levar uma vida tranquila. Não custa para que uma nova equipe montada por Amanda Waller (Viola Davis) localize o mercenário e o convença a participar do misterioso Projeto Borboleta (que também vira alvo de piadas). Ao lado de Harcourt (Jennifer Holland), Economos (Steve Agee), Murn (Chukwudi Iwuji) e Leota (Danielle Brooks), o protagonista terá que enfrentar seus medos para salvar o mundo. Ou pelo menos chegar perto disso. Pegando a premissa básica de todas as séries de super-heróis, James Gunn não tem medo de abusar da violência gráfica e do humor ácido para satirizar esse universo tão popular, além de tocar em questões políticas e sociais.
A ideia de uma série estrelada pelo Pacificador me parecia absurda, mesmo acompanhando todos os materiais de divulgação. No entanto, ao final dos três primeiros episódios da temporada, fica claro que essa não é apenas uma diversão vazia. O roteiro tem consciência de que está lidando com um personagem racista, misógino e sem filtro social e por isso não faz cerimônia em colocá-lo nas situações mais degradantes e desconfortáveis, justamente para tirar sarro de seu modo de vida. Dessa forma, evita qualquer tipo de identificação deturpada por parte do público.
Dito isso, fica evidente uma jornada para redimir o protagonista, pautada principalmente na exploração da relação dele com seu pai Auggie Smith (Robert Patrick), que rende os momentos mais desconfortáveis da série até o momento. Curiosamente, Patrick vive uma versão do Dragão Branco, um obscuro vilão racista da DC. Aliás, James Gunn expande o leque de personagens desconhecidos do grande público ao inserir Vigilante (Freddie Stroma) e Judomaster (Nhut Le) na trama. O mergulho no passado do Pacificador funciona para acrescentar camadas ao personagem e enriquecer sua linha narrativa.
Apesar de todo o elenco ganhar uma atenção especial, John Cena é o verdadeiro coração da série. O antigo astro do WWE abraçou com seus enormes músculos a oportunidade de finalmente se destacar em Hollywood. Aqui ele chora, luta, se machuca e dança baladas românticas trajando apenas sua tradicional cueca branca. É extremamente ridículo e justamente por isso é tão engraçado. Ainda que seja uma trama sobre salvar o mundo, Pacificador se sai melhor ao explorar os absurdos e exageros violentos que permeiam esses personagens. Se a Liga da Justiça de Zack Snyder trata dos deuses entre nós, o foco aqui está nas pessoas comuns, embora algumas delas sejam assassinos extremamente perigosos e idiotas.
Pacificador começa de maneira bastante sólida, entregando muita violência gráfica, boas cenas de ação, humor escrachado e diálogos rápidos e certeiros. Ao lado do filme, que também foi dirigido por Gunn, é uma das produções mais divertidas do DCEU. E quando tudo parece se tratar de multiversos, a série mostra que um cara e sua águia de estimação também merecem atenção.
P.S: é um crime a HBO Max colocar a opção de pular a abertura. Quem faz isso tem desvio de caráter. E todos os episódios contém cenas pós-créditos.