James Gunn é o novo Midas dos filmes de super-herói. O que o homem toca vira ouro. Após ter surpreendido todos com o seu O Esquadrão Suicida, o diretor prontamente anunciou uma série com um dos personagens mais polêmicos e divertidos do longa: Pacificador (Peacemaker). Interpretado pelo carismático John Cena, o anti-herói é uma sátira aos brucutus e ao modelo imperialista e proto-fascista americano. Mas será que a série exclusiva da HBO Max é só isso? Confira abaixo nesta crítica sem spoilers.
A série conta a história do Pacificador (John Cena) depois dos eventos de O Esquadrão Suicida. O herói ficou gravemente ferido em Corto Maltese e voltou aos Estados Unidos para ser tratado. Após fugir do hospital, o personagem é rapidamente chamado para mais uma missão secreta. O objetivo obscuro desta nova missão é caçar e destruir as misteriosas “borboletas”. Para acompanhá-lo nesta nova empreitada, temos os agentes Harcourt (Jennifer Holland), Murn (Chuk Iwuji), Adebayo (Danielle Brooks) e Economos (Steve Agee). Além disso, o herói ainda tem a ajuda de seu sidekick O Vigilante (Byron Asher) e seu mascote Eagly.
Gunn traz mais uma vez a sua fórmula de sucesso ao trabalhar muito bem com equipes. Por mais que todos os personagens sejam, à sua própria maneira, alívios cômicos, eles têm ao mesmo tempo seus próprios dramas e suas histórias pessoais. O Pacificador é uma sátira à extrema direita, com seus comentários preconceituosos, sua ideia errada de liberdade e suas fake news. Mas, ao mesmo tempo, é um personagem com um grande coração e vítima do ambiente tóxico que viveu com seu pai. Enquanto Chris representa aqueles que são cooptados pela extrema direita por sua ignorância, o Dragão Branco (Robert Patrick) representa aqueles que seguem essa ideologia por pura maldade, extremo machismo e preconceito. Apesar do tom cômico, a série vai para lugares bem escuros quando mostra o que essa ideologia pode fazer com um ser humano, traumatizando-o pelo resto da vida.
Pacificador não se limita à crítica social
Apesar de tocar em temas sérios e fazer algumas críticas, o Pacificador é, antes de tudo, uma série de comédia. Os personagens constantemente estão parando diálogos importantes ou cenas que poderiam avançar a história para fazer piadas de nível quinta série. E isto não é uma crítica! Alguns dos meus momentos favoritos são as interações entre o ótimo elenco com diálogos sobre besteiras. A comédia pastelão permeia todos episódios e é geralmente acompanhada por uma maravilhosa trilha sonora do rock mais farofa que você possa imaginar. Desde a excelente abertura até referências a bandas obscuras de Glam Rock, Gunn segue sua fórmula de rechear suas cenas de diálogos e ação com ótimas músicas.
Mesmo sendo uma grande comédia, a série não deixa de ter cenas de ação muito bem dirigidas e coreografadas. Além disso, a trama se desenrola com cuidado, sempre revelando novos mistérios e dando espaço para todos os personagens brilharem. Temos plot twists até o último episódio e você vai se pegar torcendo por essas pessoas e nervoso para que consigam completar sua missão com sucesso.
Pacificador é uma série extremamente divertida e bem produzida. Com personagens superinteressantes em uma sintonia perfeita e uma trama misteriosa. Eles não escondem a sátira que estão fazendo, sendo bem diretos às pessoas que estão criticando. Enquanto as minorias são tratadas com respeito, os homens brancos, cis e héteros são constantemente satirizados para tacar o dedo na ferida de quem merece. E, até mesmo no seu final, quando o personagem toma uma decisão bem clichê e no padrão do neoliberalismo americano, a série nos mostra que ela está consciente disso. É uma grande ironia que as pessoas que quase fizeram James Gunn ser demitido da Disney foram as mesmas que deram espaço para o diretor criticá-las na DC. No final, a série fala muito sobre amizade e pertencimento, misturando bem a comédia com toques de drama e um ótimo desenvolvimento de personagens.