Os sonhos roubados de Lucinda Os sonhos roubados de Lucinda

Os sonhos roubados de Lucinda

A editora Diário Macabro tem procurados sempre por talentos que escrevam sobre terrores, tanto pessoais quanto de monstros físicos. Nesse lançamento, Os sonhos roubados de Lucinda, escrito por Jack Azulita, trata de uma questão muito séria: o luto infantil.

Sinopse: O que você faria se seus sonhos começassem a desaparecer? No caso de Lucinda, encarar a Dona Aranha, moscas-rato e caranguejos frenéticos é apenas o começo da aventura! 

Lucinda perdeu seus sonhos, e, por mais que se esforce, ir dormir é cair em uma profunda escuridão, em um vazio sem fim onde tudo que pode fazer é esperar pelo despertar no dia seguinte. Para lidar com esse problema, sua mãe decide levá-la para o sítio da família, onde poderá ter tempo para se recuperar em paz. Longe de tudo, ela descobre a origem da ausência de seus sonhos: eles estão sendo roubados por alguém e, assim, ela precisa recuperá-los, partindo em uma jornada nas profundezas de si mesma, em que encontrará perigos que não imaginava com a ajuda de um amigo inesperado. 

Os sonhos roubados de Lucinda

Com claras inspirações em Coraline, de Neil Gaiman, em obras obscuras como as de Tim Burton, e uma pitada de O Labirinto do Fauno, de Guilhermo Del Toro, a história de Lucinda é contada com muita delicadeza. A criança é corajosa e determinada, pesquisando a origem de todo aquele vazio que a seguiu até os sonhos – que subitamente sumiram. Até os pesadelos!

Lucinda arregaça as mangas e, morrendo de medo, com a ajuda do Silêncio, inicia uma jornada perigosa de autodescoberta, que vai parar em lugares que a menina não queria ir. À princípio, a covardia bate em sua porta, e pensa em desistir. Mas dormir tem sido um suplício, um grande nada, e retoma suas forças. Dessa vez, ela segue em frente e, mesmo com medo, morrendo de medo, apavorada com o que vai encontrar, segue o caminho que precisa.

Com ilustrações que ajudam a retratar esse percurso, Os sonhos roubados de Lucinda encontra inspirações no medo, no terror para dar seguimento à trama da menina. Ciente de que esses sentimentos fazem parte da vida e nos ajudam a superar obstáculos reais em nossas vidas, o autor vai construindo essa teia narrativa com criatividade, tato e cuidado. É uma história que, no fim das contas, após todos os sustos, as correrias, os pavores, ela te afaga, te abraça e diz: você não está sozinho(a) nessa.

O público

Apesar de ser declaramente literatura infantojuvenil, eu acho que não deveriam se aferrar nisso. Qualquer pessoa pode e deve ter essa leitura, principalmente nessa época tão difícil no nosso país, em que somos esmagados com o medo e com o luto diariamente.

Os sonhos roubados de Lucinda pode ser um livro amigo nesses dias desesperadores, o que, na minha opinião, é a função primária da literatura: estar com você em cada passo da sua vida. Quem é leitor, tem um livro para cada momento. Ou vários. Não precisamos ter regras quanto à quantidade.

Jack Azulita propõe essa viagem com Lucinda, e eu segui com ela até o fim. Apesar de ainda precisar abrir mão de muitas das suas influências, o autor consegue encontrar o seu caminho no meio da narrativa e nos cativar.

Os sonhos de Lucinda é, afinal, um livro para mim, para você, para todos e todas.