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Os Rejeitados: despretensioso, entrega tudo e mais um pouco

Os Rejeitados é uma deliciosa surpresa. Entregue como uma dramédia, Alexander Payne nos traz uma história aconchegante e muito real de Natal, sobre três pessoas que acabam ficando presas juntas para passar essa data em um colégio interno. O interessante mesmo é quem são essas figuras, pois temos um professor odiado, o aluno que quase ninguém gosta e a cozinheira-chefe, que apesar de gostarem dela, é uma mulher enlutada que acabou de perder seu filho na guerra. A união desse trio evoca uma aura de comédia, de tristeza e também de acolhimento, à medida em que vão se entendendo melhor e se conhecendo de formas que, normalmente, jamais aconteceria.

Estamos no início da década de 1970, em um colégio interno, para onde pais ricos enviam seus filhos com a intenção de que tenham a melhor educação possível, ou, como é apontando ao longo da narrativa de Os Rejeitados, se livrar de suas crias encrenqueiras. Paul Giamatti faz o duro e detestado professor Paul Hunham, que é obrigado a ficar de babá dos alunos durante as festas de fim de ano, quando quase todo mundo vai para casa. No fim, ficam apenas ele, Angus (Dominic Sessa) e Mary (Da’Vine Joy Randolph), um trio extremamente improvável, a alma do filme. Os três atores possuem uma química monstruosa de companheirismo, de estranheza, cumplicidade, o que faz com que a trama caminhe de forma leve – mesmo nos momentos mais pesados – e divertida.

Os Rejeitados filme paul giamatti

O roteiro e a direção fazem um bom trabalho ao costurar a história em torno de como as pessoas vivem suas dores, que os guiam em diversas ações, tornando-os falhos, às vezes insuportáveis, imperfeitos, e tão firmemente humanos que é impossível não se interessar por cada trechinho, cada segundo do filme. Nos encantamos com a simplicidade dessa trama, como uma boa história de Natal. Inclusive, a tradução do título faz bem jus ao que se esperar na hora de assistir.

A fotografia é bem interessante, recriando muito o ar de produções antigas, como se fosse um filme analógico, e até mesmo as mudanças de cena nos lembram demais os filmes de antigamente, com aquelas transições que “dissolvem” a cena, para logo em seguida iniciar outra. Isso aumenta a sensação nostálgica e acolhedora que Os Rejeitados traz, como um abraço quentinho de algo que já existiu e você ainda leva consigo.

Poucos filmes como esse têm sido encontrados nas telonas de um cinema, principalmente por estarmos em tempos em que tudo parece ter a necessidade de ser grandioso demais, com plot twists responsáveis por tirar o fôlego da sua plateia, mas sem haver um real aprofundamento da obra. Existem exceções, e Os Rejeitados é uma delas. Sem pretensões de ser algo que não é, o filme entrega tudo, e talvez mais um pouco.