Lightyear Lightyear

Os problemas de Marcos Mion dublando Buzz Lightyear

A franquia Toy Story teve seu início em 1995 e, de lá pra cá, a qualidade e o prestígio da dublagem brasileira tem aumentado cada vez mais. Criada pela renomada Pixar, a trama acompanha brinquedos que ganham vida e precisam lidar com as consequências do comportamento dos seres humanos das formas mais variadas possíveis. É nesse balaio que surge o embate entre Woody e Buzz Lightyear, o antigo e o novo brinquedo favorito do garoto Andy.

Eternizado no Brasil através da voz de Guilherme Briggs, o público foi pego de sopetão quando a Disney (dona da Pixar) anunciou que o apresentador Marcos Mion (que também é ator) fará a dublagem no projeto solo para o personagem Buzz, no qual os fãs poderão conhecer a história que inspirou sua linha de brinquedos dentro do que vou chamar aqui de “Pixarverso”.

Claro que, a princípio, essa mudança atinge o emocional de algumas gerações que cresceram e se identificaram com o Buzz de Briggs, mas há pontos para o bem e para o mal que podem ser levantados sobre essa mudança.

Efeito parecido com o Lightyear “original”

Trata-se de um movimento semelhante ao utilizado com o projeto nos EUA: a voz original do patrulheiro estelar nos filmes sempre foi do ator Tim Allen, que nunca conseguiu se destacar para além da franquia na sua carreira (em live-action, participou majoritariamente de comédias de qualidade mediana). Para o longa animado de 2022, a casa do Mickey chamou, ao invés dele, o Capitão América, vulgo Chris Evans. A intenção, obviamente, é chamar ainda mais público com um nome de peso, desses que conseguem furar a bolha e atingir uma quantidade ainda maior de pessoas na publicidade.

E Marcos Mion tem esse potencial com o espectador brasileiro? A resposta é sim. Seus primórdios na extinta MTV Brasil renderam grande base com um público outrora jovem que guardou boas recordações da época. Depois disso, teve longa passagem pela Record e, mais atualmente, se encontra na TV Globo, fazendo um Caldeirão com muito mais carisma que seu antecessor, Luciano Huck. Sua presença na emissora global deu tão certo que chegou-se a considerar um contrato de não exclusividade para que o apresentador não saísse, uma vez que ele tinha um acordo firmado com a Netflix (que precisou ser desfeito para uma atuação de tempo integral no Caldeirão).

Efeito Luciano Huck?

A inserção de celebridades na dublagem de animações para angariar um público maior não é nenhuma novidade e essa prática já rendeu bons frutos (Bussunda como Shrek foi muito mais pela fama do humorista do que pela sua carreira com ator, e o resultado foi incrível), mas também resultados vexatórios como Luciano Huck em Enrolados (2010). Nesse caso, não há como negar que a adição de Marcos Mion se dá pela sua fama e não por uma – praticamente inexistente – carreira como ator. Você pode conferir como ficou o resultado de Marcos Mion dublando Buzz Lightyear no trailer abaixo:

Lugar do filme no Pixarverso permite a troca

Por se tratar de um projeto derivado de Toy Story, e levando em conta que é uma reprodução da estratégia da Disney nos EUA, ter Mion ao invés de Briggs parece algo até sensato, mesmo à luz dos fãs mais chatos que certamente farão ainda mais barulho na internet quando o filme chegar aos cinemas. Porém, seja por uma imposição velada para não perder futuros trabalhos ou por entender as necessidades do patrão, o próprio Guilherme Briggs já aceitou a mudança e passou o bastão para o seu agora colega num vídeo promocional.

Então já está claro que não precisamos tomar as dores pelo próprio Briggs, uma verdadeira lenda da dublagem brasileira (e um dos pioneiros desse belo movimento de valorização dos profissionais da área). O detalhe agora é prestar atenção à qualidade de Mion como Buzz.

Será que vai dar certo?

Nesse trailer recém-divulgado, confesso que me soou estranho. Mion tem uma voz interessante e quero acreditar que a Disney não cometeria o mesmo erro em relação a Enrolados, mas o maior problema é a voz parecer jovem demais para o personagem. Pode ser que isso não seja um problema quando a sessão for exibida de fato, no qual teremos a real dimensão da trama e seus personagens.

Por último, há um risco de Lightyear não ser absorvido como uma produção legítima pelo público, uma vez que Toy Story carrega uma carga nostálgica altíssima, e não investir nessas pessoas para encher os bolsos seria uma tremenda burrada por parte dos executivos da Disney. Isso ocorrendo, tiraria boa parte do público que a empresa almeja ganhar a mais ao trazer uma figura com mais visibilidade no lugar de um dublador consagrado.