A nova animação Os Pestes (The Twits), disponível na Netflix, adapta um dos contos menos conhecidos de Roald Dahl em uma sátira política e social que combina humor escatológico e reflexão sobre o mundo atual. Dirigido por Phil Johnston — o mesmo de Detona Ralph —, o filme parte de um material simples e o transforma em uma fábula sobre empatia, poder e estupidez coletiva. Confira a nossa crítica:
Os Pestes: uma adaptação ousada de Roald Dahl
O longa parte da história original de 1980, sobre um casal de tolos que passa o tempo pregando peças um no outro, mas expande o universo criado por Dahl para além da farsa doméstica. Aqui, o Sr. e a Sra. Twit (dublados por Johnny Vegas e Margo Martindale) vivem em Triperot, uma cidade antes próspera, agora decadente após o lago secar. Quando decidem concorrer à prefeitura, transformam sua incompetência em plataforma política, tentando recuperar prestígio com promessas absurdas e ataques ao bom senso.
Johnston e os roteiristas Kirk DeMicco e Meg Favreau usam essa premissa para construir um espelho da sociedade contemporânea, onde figuras autoritárias e desinformadas conseguem conquistar seguidores mesmo em meio ao caos. A sátira política se mistura à fantasia e à comédia grotesca, mantendo o espírito irreverente de Dahl, mas ampliando seu alcance.
Empatia e resistência no centro da trama
A história ganha novo fôlego quando os Twits cruzam o caminho de Beesha Balti (voz de Maitreyi Ramakrishnan) e Busby Mulch (Ryan Lopez), duas crianças órfãs que se tornam o contraponto emocional do filme. Os dois descobrem que conseguem se comunicar com os Muggle-Wumps, criaturas mágicas mantidas presas pelos Twits e exploradas para extrair lágrimas que alimentam o parque temático Twitlândia — uma paródia decadente da ideia de “diversão para todos”.
A partir daí, a animação se transforma em um embate entre ganância e empatia. As crianças e os animais se unem para impedir que os Twits destruam o que resta de Triperot, em uma luta que mistura ação, piadas exageradas e um olhar crítico sobre como o egoísmo pode corroer o coletivo.
Humor popular e crítica social
O humor escatológico — com incontáveis piadas de peido, bundas explosivas e absurdos visuais — é o principal canal de comunicação com o público infantil. Mas, sob a camada de bobagem intencional, há uma crítica direta a líderes populistas e à degradação moral e ambiental. Frases como “talvez devêssemos ter ouvido nossa filha em vez dos dois estranhos que vimos sendo presos no noticiário” evidenciam que a sátira mira o presente político real.
Além das dublagens expressivas, a animação aposta em um estilo visual que remete aos estúdios Aardman, com texturas visíveis e personagens de traços exagerados. A trilha sonora traz músicas originais de David Byrne e Hayley Williams, que ajudam a reforçar o tom de caos organizado que domina a produção.
Crítica de Os Pestes: vale à pena assistir na Netflix?
Uma fábula sobre empatia em tempos difíceis
Em meio à comédia absurda, Os Pestes se firma como uma história sobre o poder transformador da empatia. A lição final, expressa pela personagem Mary (voz de Natalie Portman), resume o espírito do filme: “Odiar é fácil. O difícil é não se deixar mudar por quem te odeia.” A mensagem, simples e direta, faz com que a animação vá além do riso fácil e se torne uma reflexão acessível sobre convivência e resistência diante da ignorância.
Os Pestes, com 98 minutos de duração, estreou em 17 de outubro de 2025 na Netflix. Mesmo com ritmo irregular e exageros no humor, o longa se destaca por equilibrar crítica social e humor popular, mantendo viva a essência provocadora de Roald Dahl em uma releitura moderna sobre um mundo dominado por tolos e salvável apenas pela empatia.