Entre as inúmeras comparações que devem surgir ao longo das próximas semanas, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder compartilha uma questão em particular com A Casa do Dragão: o peso do passado. No caso da superprodução do Prime Video, existe o legado da maior trilogia de fantasia do cinema comandada por Peter Jackson. Obras que marcaram gerações e ainda pertencem ao imaginário da cultura pop. Por outro lado, temos o fracasso da trilogia O Hobbit (também dirigida por Jackson, mas em um contexto diferente). Tudo isso alinhado ao criador desse extenso universo, J.R.R.Tolkien. Para não sucumbir diante da expectativa dos fãs e do olhar curioso do espectador comum, Os Anéis de Poder opta por abraçar seus antecessores e estabelecer sua própria jornada no processo.
É fato que estamos diante da maior produção da era dos streamings, tanto em escala quanto em valor investido. Os oito episódios que compõem a primeira temporada custaram incríveis 500 milhões de dólares. E cada centavo desse investimento está presente na tela. Não importa seu nível de conhecimento sobre a Terra-Média, é impossível não ficar impressionado com a mescla de cenários e efeitos visuais. Em tempos de reclamações sobre CGI, Os Anéis de Poder representa um deleite para os olhos. Por vezes é fácil esquecer que estamos acompanhando uma série de TV.
É notável o esforço da equipe técnica em reproduzir a grandiosidade e a pluralidade de cada locação. A trama está situada milhares de anos antes dos eventos cinematográficos, na chamada Segunda Era da Terra-Média. Logo, muitos dos reinos e das cidades conhecidos estão em seu auge de poder e riqueza. Isso é refletido nos figurinos e no design de produção, que estabelece com precisão as diferenças entre as raças. No entanto, se o visual chama a atenção, a história demora para fisgar o coração do espectador.
Com tantos núcleos que devem desempenhar papéis importantes na trama, os dois primeiros episódios precisam estabelecer a mitologia da série e preparar o espectador para o futuro. A Shadow of the Past, primeiro episódio da temporada, serve como um prelúdio mais engessado, focando nas questões políticas e sentimentais dos principais personagens. É o típico início de história, que não se permite entregar demais. Vale lembrar que Os Anéis de Poder está programada para durar cinco temporadas. Destaque especial para os jovens Elrond (Robert Aramayo) e Galadriel (Morfydd Clark), que, ainda distantes de suas versões finais, os personagens encantam justamente por apresentarem novas camadas ao público.
Os detalhes da trama começam a surgir em Adrift, o segundo episódio. Além de mais cenas de ação, que quebram a morosidade do contexto político, os personagens começam a se mover, mesclando núcleos até então distintos. Menção mais do que especial para o encontro entre Elrond e o príncipe Durin IV (Owain Arthur), que mostra a imponência de Khazad-Dûm. A chegada de um personagem misterioso (que convenhamos, não é tão misterioso assim) promete reverberar na vindoura batalha contra Sauron. Aliás, a mera citação do nome do vilão é capaz de causar uma enorme apreensão. Além de elfos e anãos, o roteiro ainda explora os homens e os simpáticos Pés-Peludos, ancestrais dos hobbits. Os showrunners Patrick McKay e John D. Payne terão como missão equilibrar todos esses segmentos enquanto evoluem a história.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder começa de forma grandiosa, como toda história situada na Terra-Média merece ser retratada. E vai além do visual luxuoso, entregando em seu texto questões tão importantes para Tolkien e os fãs de sua obra como amizade, heroísmo e a luta entre o bem e o mal. Fica a esperança de que o restante da temporada confirme o que muitos estão pensando agora: estamos diante de uma nova era das séries de TV.