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Os 7 de Chicago

Aaron Sorkin (A Rede Social) é conhecido pelos seus roteiros com diálogos rápidos e dinâmicos. Desde A Grande Jogada, o escritor passou também a dirigir filmes e também tem feito um bom trabalho nessa área. Seu novo longa, Os 7 de Chicago, lançado pela Netflix, recebeu 4 indicações ao Globo de Ouro, incluindo melhor diretor e melhor filme dramático.

O filme fala sobre um dos julgamentos mais importantes dos EUA, quando um grupo de manifestantes contra a Guerra do Vietnã entrou em confronto com a polícia e seus líderes foram detidos. Dentre os personagens mais importantes da trama, temos o líder estudantil Tom Hayden (Eddie Redmayne) e o ativista Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), que possuem discordâncias quanto à militância, mesmo estando na mesma posição de réus.

Os 7 de Chicago é um clássico filme de tribunal, a maior parte do longa se passa durante o julgamento com flashbacks mostrando os fatos que aconteceram. Algumas das melhores cenas, inclusive, são quando fatos são narrados ao mesmo tempo por testemunhas no tribunal, Hoffman em um tipo de stand up comedy e dramatizações dos acontecimentos reais. Tudo isso em uma montagem bem dinâmica e rápida, misturando narrações diferentes e com uma trilha sonora mantendo o ritmo. O roteirista e diretor Sorkin faz um ótimo trabalho em dar bastante ação até mesmo em cenas “somente” de diálogo.

A narrativa não linear do longa pode atrapalhar um pouco o entendimento no começo. Além disso, personagens entram e saem algumas vezes sem introduções necessárias, necessitando do expectador algum conhecimento de história ou paciência para ver no que aquilo vai desenrolar. Mas, mais uma vez, os diálogos rápidos, ácidos e divertidos de Sorkin quebram a seriedade em diversos momentos e tornam as cenas mais humanas. Muitas dessas situações tomam diversas liberdades criativas, colocando palavras na boca dos personagens que não as disseram. É importante ressaltar que o longa é inspirado nos fatos reais e não tem o objetivo de ser uma representação 100% fiel aos acontecimentos.

Apesar de ser um filme sobre um fato que aconteceu nos anos 1960, Os 7 de Chicago tem diversas rimas com o mundo atual. Em um 2020 marcado por discussões sobre brutalidade policial, principalmente contra a população negra, o filme vem como mais um aviso de que isso sempre aconteceu. No longa, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), um membro dos Panteras Negras acusado de assassinato é colocado junto com os acusados para poder “assustar o júri”. Em um certo momento, colocam uma mordaça na sua boca e o advogado pergunta “Você está conseguindo respirar?“. É impossível não fazer uma ligação dessa cena com o assassinato de George Floyd por policiais americanos em 2020.

Os 7 de Chicago é um longa muito bem feito e que não esconde a mensagem que deseja passar. Tanto a direção como as atuações estão em um ponto certo, raramente sendo exageradas para se tornar algo brega. Claro que existem sim momentos de breguice ou um patriotismo americano, mas são em situações pontuais para exaltar o drama da cena. O filme traz diversas perguntas, questionando para quem serve o governo e a polícia, coisas que nos perguntamos até hoje. Claro que o filme gera várias situações que não aconteceram daquela exata forma, mas se for para entregar uma ótima obra cinematográfica como essa, por mim tá tudo bem.