Desde sempre mulheres são reprimidas, sem podermos expressar a nossa sexualidade ou mesmo falar sobre ela, sendo condenadas veementemente quando o fazemos. Em muitos casos, temos que gritar para o mundo que, por falarmos sobre sexo, não quer dizer que sejamos promíscuas, ou que queiramos transar naquele momento, com a pessoa com quem estamos conversando.
“Na medida em que a família é identificada como a principal instituição social que organiza as relações sexuais entre os gêneros, o controle social é visto como atuando diretamente sobre o corpo das mulheres, cuja identidade principal é a de mãe, e cuja sexualidade é socialmente aceita somente na reprodução de filhos legítimos.” (Griffin, Karen. Violência de gênero, sexualidade e saúde)
O tabu relacionado à sexualidade feminina vem diretamente da ideia de que mulher é para reprodução. Em épocas como a do Império Romano, o homem era declaradamente o ser merecedor do amor, enquanto as mulheres eram deixadas de lado, mal viam seus maridos, sendo vistas praticamente como um rebanho reprodutor. Quem nunca ouviu a expressão “mulher para casar e mulher para ficar”? Já chegamos a absurdos como namorado que trai a sua parceira, pois ela tem uma limitação na cama. Em frase já ouvida: “A boca da minha futura esposa vai beijar meus futuros filhos! Eu não quero essa boca no meu pau.”
Em plenos século 21, no ano de 2021, e esse tipo de pensamento ainda é repassado. Mas, claro, não nos calamos. E uma dessas vozes, que veio dicumforça, foi a de Kah Dantas e seu livro Orgasmo Santo.
Lançado pela editora Gosto Duvidoso, em 2020, o livro está na sua segunda edição e traz ilustrações de Bruno Marafigo, que consegue capturar a essência pedida por cada história, cada conto, cada pedaço da narrativa criada pela autora.
Por meio de palavra e imagem, Kah Dantas resolveu exercer a sua escrita por meio do gênero erótico, concebendo este projeto: uma ode ao corpo e à boceta, aos desejos físicos. Ela escancara a sexualidade feminina, mostra que nossa libido não é pouca, que não devemos ser reprimidas e podemos sim expressá-la. Não é errado, não é sujo e nem feio. Somos seres tão sexuais quanto homens, e essa desconstrução e a construção do feminino é o cerne do livro.
De acordo com Clara Averbuck, ela nem categorizaria esta obra como erótico. Ela se enquadra melhor como putaria, pura e simples, do jeito que incomoda os puritanos, os hipócritas, os pudicos, que fingem não ter sonhos, pensamentos e desejos tais quais exibidos aqui.
Orgasmo Santo é composto por contos, sonhos, desejos. A autora tem uma escrita fluida, orgânica, real. Ela toca na alma, no tesão, na quebra do puritanismo. Sem meias palavras, Kah Dantas não se utiliza de subterfúgios para se referir ao pênis e à vagina, ao ato sexual. Nada de mastro, flor, o espaço entre as suas pernas, lanças flamejantes, nada de metáforas para a vida. Ela é crua, nua e sensual.
A editora Gosto Duvidoso tem viés erótico, noturno. Ela teve um cuidado enorme com o livro, que possui uma diagramação bonita e uma capa de excelente qualidade. É mais uma editora nacional que merece destaque e todo o nosso amor, pois é ousada e autêntica, com vários outros lançamentos nessa pegada que normalmente não vemos por aí.
Você pode encontrar mais sobre os escritos da Kah no blog dela, ou em suas redes sociais.