Michael Jai White encara um novo momento na ação da Netflix
Onda de Violência (Hostile Takeover), novo filme de ação da Netflix (assista) estrelado por Michael Jai White, apresenta uma proposta clara: entregar lutas coreografadas, carisma e o estilo físico que marcaram a carreira do ator. Dirigido por Michael Hamilton-Wright, o longa cumpre essa promessa, mas também evidencia um ponto inevitável — White, aos 57 anos, não se move mais como antes, e a própria construção narrativa tenta contornar esse fator de maneiras perceptíveis. Confira a crítica:
O filme assume desde o início uma estética autoconsciente, quase inspirada por videogames, com breves interlúdios para apresentar cada personagem. A premissa acompanha Pete, um assassino veterano que decide frequentar reuniões dos Viciados em Trabalho Anônimos. A iniciativa leva seu chefe, Matteo Arcado (John Littlefield), a concluir que ele está colaborando com inimigos. A partir desse mal-entendido, a história coloca Pete em confronto com outros assassinos que enxergam na recompensa oferecida por sua cabeça uma oportunidade de ascensão.
Essa escolha narrativa abre espaço para encontros episódicos em que Pete enfrenta oponentes com estilos diferentes, sempre em moldes parecidos: introdução rápida, troca de diálogos e luta obrigatória. O tom é leve, mas Onda de Violência não se entrega totalmente ao humor. Existem piadas recorrentes, situações com sotaques improvisados e referências ao cotidiano desses matadores profissionais, mas o filme não se aproxima da estrutura cômica que White explorou em Black Dynamite, obra que segue como um marco de sua carreira.
A indecisão tonal afeta o ritmo. Em vários momentos, a narrativa pausa em conflitos pessoais pouco desenvolvidos, especialmente na relação entre Pete e Mora (Aimee Stolte), filha de Arcado. O romance funciona como motor dramático, mas não sustenta o tempo dedicado a ele. O eixo central, no entanto, é a busca de Pete por equilíbrio entre vida profissional e pessoal, algo que dialoga diretamente com a idade do protagonista e com a transição que sua carreira atravessa.
No campo da ação, o filme cumpre o que o público espera de Michael Jai White, mas com ajustes. As coreografias são mais lentas, claramente pensadas para permitir que o ator execute cada movimento sem substituições. A técnica segue precisa, porém a diferença física é visível. Ainda assim, vê-lo realizar suas próprias cenas sem o uso excessivo de cortes rápidos evita o tipo de edição que prejudicou nomes como Liam Neeson em fases recentes.

Os antagonistas secundários reforçam o caráter episódico da trama. Personagens como Reaper (Aleks Paunovic), Mingjue (Alex Mallari Jr.), Thanatos (Damon Runyan) e Gabriel (Kyle Bailey) surgem com características mínimas, muitas vezes limitadas a uma piada ou rancor específico contra Pete por compromissos perdidos. Apenas Angel Gratis (Dawn Olivieri) surge como ameaça direta, mas sua participação aparece apenas nos instantes finais.
Crítica de Onda de Violência: vale à pena assistir ao filme na Netflix?
Onda de Violência funciona como um estudo sobre um protagonista que tenta reorganizar sua rotina enquanto encara o peso da idade em um universo que exige desempenho constante. Michael Jai White ainda sustenta sequências de luta, mas o filme reconhece — de maneira discreta — que seu estilo de ação está mudando. A produção entrega momentos eficientes e admite que essa transição faz parte da evolução natural de um veterano do gênero.