A fantasia é um dos gêneros da ficção que chama atenção por unir um lado mágico com o real, possibilitando diversas analogias com a nossa sociedade e nossas vivências. Traumas, alegrias, virtudes, ódio e modos de vida somados ao sobrenatural. Tudo é possível dentro da fantasia, e o terror não foge à regra. Em seu primeiro longa-metragem, Ishana Night Shyamalan (sim, uma “nepobaby”, filha do mestre M. Night Shyamalan) constrói em Os Observadores algo que vem das redes sociais atuais: o desejo de observar ou buscar ser outras pessoas.
Estrelado por Dakota Fanning, a história mostra Mina, uma jovem atormentada por um passado distante, que se perde em uma floresta na Irlanda para descobrir que está presa em um local onde criaturas perigosas vão observar os humanos de um lugar chamado de ‘poleiro’. Assim como outros de seu gênero, “Os Observadores” não demora em apresentar os perigos que os personagens ali presentes precisam passar. Ou melhor, se habituar.
A rotina faz parte da vida de qualquer ser. Até mesmo não fazer nada exige um certo grau de comprometimento, que não tarda em ser questionado pela mesma pessoa que se coloca nessa posição. A sociedade nos obriga (de certo modo) a nos mexer, questionar, observar e aprender – principalmente com os erros. Nesse contexto, Ishana Shyamalan coloca os personagens, adaptados do livro de A.M. Shine, nesse mesmo balaio. Afinal, quem os observa? Quem produziu as regras? E, se não cumprirmos, o que acontece?
A verdade é que “Os Observadores” não foge de nossa convivência com as redes sociais. Passamos horas e horas em frente às telas, sejam de computadores, televisões ou mesmo os celulares. Ociosos ou não, nós, brasileiros, gastamos mais de 9 horas consumindo conteúdo on-line, ávidos por um pouco de diversão, informação. Essa relação mimética das criaturas do filme não se desvincula do que encontramos hoje. Danças no TikTok, posturas e modos de falar, agir ou pensar. É comum perceber jovens e adultos que querem copiar o outro, simulando a vida dos sonhos, ostentando carros e viagens ou somente curtindo um padrão de vida e gosto criado pelo modo capitalista.
As criaturas apresentadas em “Os Observadores” acabam entrando no vale da estranheza, do surreal, quase como referência à entidade do filme “Mama” (2013). Todorov, em seu livro “Introdução à literatura fantástica” (1975), comenta que o estranho e o maravilhoso dão o tom sobre o que é fantástico, e é com Mina (Dakota Fanning) que temos essa construção que passa pelo terror, suspense e fantasia, como a própria Ishana já comentou.
Diferente do horror gráfico que muito dos terrores atuais abordam, Ishana Night Shyamalan opta por trazer algo mais próximo ao que seu pai fez e continua fazendo – ainda que ela traga as respostas às perguntas que constrói ao longo do filme (diferente de M. Night Shyamalan). Assim, “Os Observadores” se mostra até mesmo como uma pequena aventura no gênero da fantasia e do suspense. Um olhar para o espelho que reflete aquilo que pensamos ser ou que gostaríamos de ser, e, no fim, nos habituamos.