Os dois primeiros episódios de Obi-Wan Kenobi, série do universo Star Wars dedicada ao lendário personagem da franquia, já estão disponíveis no Disney+ e as primeiras impressões são positivas – mesmo que possamos fazer algumas ressalvas sobre este debute.
A mais óbvia trata-se de um desafio de qualquer produção relacionada à franquia criada por George Lucas, que é o cânone. Obi-Wan Kenobi, diferente de The Mandalorian, não é uma série que vai chamar muito novos espectadores, possuindo um lastro muito forte com outras produções da saga. A solução para isso acaba sendo uma recapitulação até que bem resumida sobre a trajetória do personagem nos episódios I, II e III – mas isso acaba já trazendo uma sensação de que estamos vendo algo em andamento logo de cara, e ninguém deseja iniciar uma nova série a partir da 3ª ou 4ª temporada, certo?
A trama se passa entre os episódios III e IV e mostra Obi-Wan (Ewan McGregor) exilado na calorenta Tatooine, No planeta de dois sóis, o Jedi mantém uma rotina discreta por algumas razões. Após a Ordem 66, quase todos os Jedi foram mortos e os poucos que restaram estão sendo caçados. Além disso, Kenobi carrega consigo a culpa pelo fracasso com Anakin Skywalker, seu discípulo, que ele se viu obrigado a matar após este se converter ao lado sombrio da Força.
O que vemos então é um personagem quebrado. A perseguição aos seus pares, mesmo sendo real e visceral, acaba sendo instrumento para que o protagonista permaneça nas sombras, sem avançar no seu luto. Mesmo a missão de vigiar Luke para que nenhum mal lhe aconteça entra nesse contexto: Obi-Wan verbaliza ao tio Owen Lars (Joel Edgerton) que precisará treinar o garoto quando chegar a hora, mas isso não passa de um subterfúgio para ele continuar em negação, uma vez que ele mesmo orienta um colega Jedi (que foi pedir ajuda) a se esconder, pois o tempo dos Jedi terminou.
A força de Obi-Wan Kenobi
Nesse momento que a produção da série começa a se destacar um pouco mais. Ao invés de manter o agora Ben Kenobi por ali, a trama coloca a fofíssima Vivien Lyra Blair para dar vida a Leia Organa numa versão mirim, levando o protagonista numa missão até ela. Além de um afago no coração do fã ao destacar a personagem eternizada por Carrie Fisher, esse movimento serve como um respiro de ar fresco para algo potencialmente cansativo e com poucas possibilidades de roteiro, que seria concentrar as coisas em Luke. Além do mais, é algo que faz todo sentido pois logo no comecinho do primeiro Star Wars já temos ciência de que Leia conhece Obi-Wan.
Deborah Chow é a diretora dos episódios da série e seu trabalho é satisfatório. Ela possui vasta experiência prévia em produções como The Mandalorian, Better Call Saul, Jessica Jones, Deuses Americanos e mais. Porém, essa é a primeira chance de Chow mostrar um serviço completo, dirigindo mais de apenas um ou dois episódios. Talvez por isso ela peque em alguns momentos, como na patética coreografia durante a cena de perseguição e consequente sequestro da pequena Leia na floresta.
A título de curiosidade, o líder daquela gangue é ninguém menos que o baixista da banda Red Hot Chili Peppers, o Flea. O networking aqui é o seguinte: Deborah Chow dirigiu o videoclipe de Black Summer, música do novíssimo álbum do Red Hot. Em contrapartida, Flea, que é um excelente músico e já fez pontas em outras produções na TV e cinema, ganhou um papel malvadão em Obi-Wan Kenobi.
No entanto, malvado mesmo são os Inquisidores que estão perseguindo os Jedi. O Grande Inquisidor (Rupert Friend) e Quinto Irmão (Sung Kang) são conhecidos por Star Wars: Rebels, mas é Reva (ou Terceira Irmã), vivida por Moses Ingram, quem desperta mais curiosidade por sua obsessão em encontrar Kenobi. Certamente, suas motivações e profundidade serão bem exploradas na série, principalmente se levarmos em conta que uma das crianças em treinamento jedi mostradas na cena introdutória se assemelha bastante com ela, que agora está adulta e agindo para fazer a vontade de Anakin, ou melhor, Darth Vader.
Ewan McGregor está impecável no papel protagonista, parecendo se adequar ainda mais ao personagem agora que possui tamanha carga dramática e certamente deverá segurar as pontas caso o produto final não agrade tanto.
Mas a verdade é que Obi-Wan Kenobi se mostrou uma ótima pedida nestes dois primeiros capítulos, explorando o peso da culpa de um personagem sempre visto como mestre mas que, não esqueçamos, possui sua própria jornada do herói e é um dos mais interessantes de Star Wars.