Longa de Ken Loach, The Old Oak direciona olhar para classe trabalhadora refugiada
Com estreia marcada para agosto de 2024 no Brasil, O Último Pub (The Old Oak, 2023) é também a última produção do diretor Ken Loach (Eu, Daniel Blake), que trabalha mais uma vez a partir do roteiro de Paul Laverty numa história com olhar para a classe trabalhadora, tanto a dos refugiados sírios quanto a dos que resistem numa vila atingida pela evasão.
O local é o nordeste da Inglaterra, num vilarejo outrora potente na atividade da mineração, mas que agora sofre com a falta de empregos e de perspectiva para o crescimento. Isso afeta profundamente a vida dos moradores, uma vez que a especulação imobiliária joga o preço de seus imóveis para valores irrisórios, além do fato de escolas e outras instituições passarem a deixar de existir, ou funcionar de modo precário.
Um desses estabelecimentos é o The Old Oak, que dá nome ao título original do filme, um bar decadente comandado por TJ Ballantyne (Dave Turner), proprietário que tenta manter o negócio aberto após décadas. Devido a área ser desvalorizada, o governo enxerga no local uma boa opção para alocar refugiados da Síria, gerando desconforto da comunidade conservadora. O que são pequenos conflitos passam a aumentar para tons mais ameaçadores, e o clima de tensão paira no ar. Enquanto isso, TJ firma uma inesperada amizade com Yara (Ebla Mari), uma jovem refugiada que registra tudo a partir de sua câmera.
O Último Pub e o desastre de Easington Colliery em 1951
Uma marcante cena captada pela câmera do diretor de fotografia, Robbie Ryan, é quando estamos dentro da casa de uma moradora local na qual um menino, já adolescente, está completamente habituado à miséria de sua residência enquanto se distrai jogando videogame. Esse e outros momentos pontuam que não são apenas os refugiados que passam por dificuldades, embora seja necessário reconhecer as diferenças de cada situação.
Acontece que a população de Easington Colliery, vila do condado de Durham, possui um forte orgulho, e seus valores possuem fortes feridas provenientes da negligência do governo (que não soube lidar com a desvalorização após o encerramento da mineração) e do desastre ocorrido em 1951, quando mais de 80 pessoas morreram em um acidente.
Desse modo, é interessante que Ken Loach vá direto ao assunto ao abordar esta delicada situação: pessoas machucadas historicamente que não querem receber estrangeiros, que por sua vez não gostariam de estar ali, mas foram obrigados a abandonar seu lar para não morrer numa guerra brutal. O pub remanescente de Easington Colliery é o palco desse encontro, servindo perfeitamente para as melhores analogias e simbolismos do filme.
Por vezes, o texto de O Último Pub acaba soando didático demais, e o excesso de dramaticidade no passado do protagonista acaba tornando esta vertente mal explorada, mas a relação de TJ com Yara representa muito bem como a resolução de conflitos passa, principalmente, pela solidariedade – na melhor definição da palavra: compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas.
É nessa troca que TJ e Yara crescem como personagens e espelham ao espectador situações semelhantes pelas quais ele pode se colocar, afinal, o refugiado (que já passa por uma situação pra lá de desumana) pode muito bem ser equiparado ao modo como tratamos qualquer outro grupo “de fora”: colegas de trabalho, novos membros na família, vizinhos vindos de outros estados etc. Pode parecer uma análise moral barata, mas a simples convivência promove trocas significativas para qualquer pessoa – e aumenta o senso crítico geral das comunidades.