A chibata comeu, o couro cantou, mas O Shaolin do Sertão continuou o mesmo!
Com o grande sucesso de Cine Holliúdy continuamos a acreditar no potencial do cinema nacional, em destaque o nosso porreta cinema cearense. Diretores mais conhecidos como Rosemberg Cariry, seu filho Petrus Cariry, Karim Ainouz, sem esquecer o ilustre Halder Gomes, começaram a ganhar destaque em diversas mídias no Brasil e alguns chegaram a ultrapassar o nosso continente e ir para o exterior. Ver essa forma cearense de fazer filme crescer e ganhar nome é o que todos os cinéfilos e cineastas do nosso estado deseja. Essa cultura sendo espalhada, divulgada e mostrando que temos o potencial de chegar ainda mais longe. Lembrar sempre daquele velho ditado “cearense tá em cada esquina“. E quem imaginou que chegaria na China, no imaginário, mas na China, junto com “O Shaolin do Sertão”.
O filme nos traz a história de Aloisio Li (Edmilson Filho), interpretando um jovem padeiro na cidade do Quixadá, que sente que tem um chamado divino para ser um grande lutador de Kung Fu. Apaixonado por uma bela moça, Anésia Shirley (Bruna Hamú), banca o mocinho em busca do amor da donzela. Com um grande desafio de honrar sua cidade, Aloisio Li decide aceitar uma luta “arrumada” com o grande lutador Tony Tora Pleura (Fábio Goulart). Sua meta agora é se tornar um grande lutador de Kung Fu, o famoso Shaolin do Sertão. Ele irá aprender na sua trajetória o valor de confiar em si mesmo e no seu instinto shaolin.
O filme tem aparatos gráficos e visuais que são muito legais, de se dar bastante esperança na primeira meia hora de filme. O inicio vai te cativando com um ritmo bom, te faz ficar antenado no que está por vir. Já tira suas primeiras gargalhadas (é o que não falta no filme). Começa a apresentar bem o personagem principal, depois mostra sua motivação aquela velha forma de entreter. Isso é bastante eficaz, até que você espera coisas novas e menos previsíveis, porém isso não acontece. O meio do filme é bastante cansativo, apesar da narrativa rápida e que te traz aquela sensação de já acabou. Não fosse isso, onde o personagem tem aquele conflito demorado de aprendizagem de se descobrir, o filme teria sido incrível.
A trilha sonora é boa, a fotografia não deixa a desejar, o roteiro é bem trabalhado, temos uma narrativa que te prende, que deixa viajando na comédia, nas “Fuleragem” (termo cearense utilizado para zoar). Algumas atuações me incomodaram bastante, mas digo, não tem como não se encantar por Bruna Hamú. Faz toda aquela garota meiga, doce, que por dentro é uma grande mulher. Sem esquecer de Haroldo Guimarães, Dedê Santana, Fafy Siqueira que também deixaram sua marca bastante exclusiva.
O último fator a se comentar é como a montagem do filme tem um significado imenso para a compreensão e beleza de toda a construção narrativa e estética de O Shaolin do Sertão. Ver a famosa montagem intelectual do cineasta e teórico russo Sergei Einsentein, foi um dos agrados, não que ela esteja presente em 100% dos filmes. Porém utiliza-lá bem é para poucos e o filme conseguiu fazer isso perfeitamente. Os pontos se encaixam, a viagem e lucidez é bem tratada como forma de compreensão das cenas. Grandes pontos que fizeram a diferença.
O filme anterior de Halder Gomes, Cine Holliúdy, conseguiu nos encantar mais com o seu argumento apresentado e como obra em si. O Shaolin do Sertão é um bom filme para se dar gargalhadas, para conseguir se identificar, mas não chega a ser extraordinário. Não chega a nos apresentar todo o seu potencial, mas cumpre com o propósito. Vai levar muita gente para as salas de cinema. A chibata comeu, o couro cantou, mas o filme continuou o mesmo!