Que maravilhoso foi esse retorno à Terra Média em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, uma produção suntuosa, de efeitos especiais magníficos, figurinos e cenários deslumbrantes, com toda aquela atmosfera que remete imediatamente à trilogia clássica de Peter Jackson.
Os criadores Patrick McKay e J.D. Payne são claramente apaixonados pelos livros de J. R. R. Tolkien, e mesmo com as limitações de uso de alguns trechos, eles sabem como prestar tributo, se mantendo fiel a uma base, mas não presos criativamente, o que favorece o desenvolvimento dessa história original durante a Segunda Era, promovendo alguns dos melhores momentos que o audiovisual ganhou em 2022. Estes vão desde os embates que levam à formação de Mordor às visões da queda de Númenor; das panorâmicas belíssimas em Valinor até passagens impressionantes em Moria; da revelação das identidades de Sauron e do Estranho até dos diálogos emocionantes entre os pés-peludos.
Tudo em Os Anéis de Poder é de encher os olhos, com diversas cenas que parecem (e algumas são) retiradas diretamente dos livros, com sua poesia e leve cafonisse (para os padrões cínicos de hoje), mas que funcionam dentro de sua premissa. O elenco de desconhecidos contribui para maior envolvimento do público com os personagens, todos cativantes e bem desenvolvidos, em uma trama coesa, complexa e expansiva, que mais agrega a mitologia do Legendário, do que apenas o extrai. Os núcleos dão ritmo ao enredo, distribuindo mini-narrativas (à maneira de GoT, mas sem a crueza daquele cenário, é claro), equilibrando drama e tensão, terror e aventura, divertimento e romance, a medida que também cria rimas visuais com os filmes de Jackson.
Enquanto os pés-peludos são o coração da trama, trazendo uma boa dose de leveza, mas também apreensão para a série, o núcleo humano e palaciano de Númenor vai pouco a pouco se integrando às Terras do Sul da Terra Média, em uma trama mirabolante que remete aos melhores momentos de O Retorno do Rei. Os elfos de Valinor mantém o clima que o público já conhece, entretanto, os anãos entregam um pouco mais de mitologia, drama paternal e fraternal e bom humor. Galadriel (Morfydd Clark) se prova uma protagonista errática, numa sacada bem proposta pelos criadores, já que a elfa precisa cruzar sua própria jornada da heroína. A química entre o jovem Elrond (Robert Aramayo) e Durin IV (Owain Arthur) é notável, rendendo momentos marcantes. Nori (Markella Kavenagh) é adorável e promete muito para o futuro. Adar (Joseph Mawle) e o Estranho (Daniel Weyman) contribuem para a sustentação da estranheza no ambiente, enquanto Arondir (Ismael Cruz Cordova) consegue representar um novo Legolas em cena, com sequências extraordinárias.
Ao fim, todas as premissas apresentadas cumprem as expectativas, deixando um gosto agridoce de quero mais. Respeitando as origens, mas sem se prender a parágrafos, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder cria um novo mundo dentro do conhecido e ao mesmo tempo misterioso, que estabelece conexões com os filmes à medida que avança em uma identidade própria, oferecendo um espetáculo visual e envolvente sem igual.