O Royal Hotel (2023) - filme dirigido por Kitty Green estrelado por Julia Garner - crítica O Royal Hotel (2023) - filme dirigido por Kitty Green estrelado por Julia Garner - crítica

O Royal Hotel (2023) | Crítica do Filme | Netflix

O filme O Royal Hotel (The Royal Hotel, 2023), dirigido por Kitty Green e estrelado por Julia Garner e Jessica Henwick, chega à Netflix explorando um terreno já conhecido no cinema: viajantes estrangeiros que se deparam com situações perigosas em territórios isolados. No entanto, a diretora adota um olhar diferente ao transformar esse ponto de partida em uma narrativa centrada nas microagressões e na vigilância constante que mulheres precisam exercer em ambientes hostis. Leia a seguir a nossa crítica do longa-metragem:

Na trama, Hanna (Garner) e Liv (Henwick), duas amigas americanas em viagem pela Austrália, aceitam trabalhar em um pub remoto de uma comunidade mineradora. O local é administrado por Billy (Hugo Weaving), um homem alcoólatra e excêntrico, que não consegue controlar os clientes. O que poderia parecer apenas um trabalho temporário se torna um espaço de tensão crescente, onde olhares, comentários e comportamentos invasivos se acumulam a cada noite.

A construção da tensão

Kitty Green já havia demonstrado em The Assistant (2019) sua capacidade de transformar o cotidiano em fonte de desconforto e ameaça. Em O Royal Hotel, ela repete esse recurso, agora em um cenário coletivo, onde as protagonistas precisam lidar com homens que oscilam entre o charme superficial e a intimidação velada.

O suspense não é construído em torno de grandes explosões de violência, mas sim pela sensação de que algo pode acontecer a qualquer momento. O filme coloca o espectador no mesmo estado de alerta das personagens, fazendo com que pequenos gestos – um pedido para sorrir, um comentário invasivo, um copo de bebida oferecido – ganhem um peso desproporcional.

O olhar sobre gênero e poder

Mais do que um thriller, o longa se consolida como uma análise social sobre os limites que mulheres enfrentam em interações cotidianas. Hanna adota uma postura mais cautelosa e crítica, enquanto Liv demonstra maior tolerância aos comportamentos locais, o que gera atritos entre as amigas.

Essa diferença de atitudes funciona como espelho de duas formas de enfrentar o mesmo problema: a hipervigilância e o desejo de normalizar situações desconfortáveis para não romper com a convivência. O roteiro de Green e Oscar Redding se concentra justamente nesse campo nebuloso, em que uma piada ou um flerte podem rapidamente se transformar em ameaça.

O papel de uma inóspita Austrália na narrativa do filme

O pub decadente e a pequena comunidade ao redor funcionam quase como personagens. Com poucos habitantes e nenhuma possibilidade de fuga imediata, o espaço se torna uma prisão simbólica para Hanna e Liv. A ausência de internet, a dependência financeira e a pressão social transformam cada noite de trabalho em uma experiência de sobrevivência.

Hugo Weaving em O Royal Hotel (2023), longa está disponível na Netflix
Créditos da imagem: Divulgação

A atmosfera lembra produções de horror e faroeste, mas Green opta por manter os pés no realismo, explorando o desconforto gradual e a sensação de estar cercado por forças invisíveis. O clima de isolamento e a impossibilidade de encontrar aliados confiáveis intensificam o suspense.

Julia Garner e Jessica Henwick

Julia Garner e Jessica Henwick sustentam o filme com atuações complementares. Garner constrói Hanna como alguém que percebe os sinais de perigo desde o início, enquanto Henwick oferece uma Liv mais vulnerável, mas também mais disposta a se adaptar. A dinâmica entre as duas atrizes mantém a narrativa em movimento e reforça a ideia de que a experiência feminina diante da ameaça não é homogênea.

Em bastante evidência nos últimos meses, Julia Garner tem sido muito requisitada na indústria cinematográfica estrelando o filme de terror de sucesso A Hora do Mal e Quarteto Fantástico: Primeiros Passos.

O final de O Royal Hotel

Embora a direção de Green mantenha o suspense em alta parte do tempo, o desfecho de O Royal Hotel divide opiniões. O filme flerta com a explosão de um thriller tradicional, mas não chega a assumir completamente esse formato. Como resultado, a tensão construída ao longo da história se dissipa parcialmente, deixando a sensação de que a conclusão poderia ter explorado mais a complexidade apresentada nos primeiros atos.

Ainda assim, a opção da diretora de evitar soluções fáceis contribui para que o filme permaneça fiel à sua proposta: retratar situações ambíguas, difíceis de rotular como “seguras” ou “ameaçadoras”, mas que, na prática, moldam a experiência de mulheres em ambientes dominados por homens.

Crítica: O Royal Hotel é bom?

O Royal Hotel não segue os caminhos convencionais de um thriller de sobrevivência. Em vez de priorizar o choque imediato, Kitty Green aposta na tensão psicológica e nas sutilezas das interações sociais. O longa encontra força no realismo e nas atuações de Julia Garner e Jessica Henwick, mas gera debates sobre a condução de seu final.

Disponível na Netflix (clique aqui para assistir), o filme se destaca como uma reflexão sobre gênero, poder e vulnerabilidade, inserindo-se em um contexto mais amplo de narrativas que discutem a experiência feminina em espaços hostis.