O cinema tailandês tem tradição em unir gêneros improváveis, e O Quarto 404 (404 Run Run), que estreia na Netflix Brasil no dia 3 de outubro, segue essa linha ao misturar comédia, terror e drama em uma narrativa que oscila entre o riso e o susto. Dirigido por Pichaya Jarusboonpracha, o longa aposta em uma história de assombração que não se prende às fórmulas mais comuns, explorando o choque entre ambição e memória. Confira a nossa crítica do filme:
A trama de O Quarto 404
O protagonista é Nakrob, interpretado por Ter Chantavit, um corretor imobiliário trapaceiro que sobrevive comprando imóveis em ruínas e tentando revendê-los por preços inflados. Com dificuldades financeiras e em crise no relacionamento com a namorada Jie-Pen (Paweenut Pangnakorn), ele vê a chance de dar uma guinada quando descobre o Sukhee Nirun, um hotel abandonado à beira-mar. O plano é simples: reformar o espaço e transformá-lo em um empreendimento de luxo.
O que Nakrob não espera é que o local ainda seja habitado pelo espírito de Lalita (Kanyawee Songmuang), antiga dona do hotel, que morreu ali e não aceita a ideia de ver seu refúgio convertido em negócio. O embate entre o trapaceiro e o fantasma se torna o eixo central da trama, com direito a sustos, situações cômicas e revelações sobre o passado da personagem.
Terror e comédia em equilíbrio instável
O grande diferencial de O Quarto 404 está no equilíbrio entre o humor tipicamente tailandês e os elementos de suspense. O filme se apoia em piadas de tom físico e situações exageradas, muitas vezes centradas nas tentativas frustradas de Nakrob para expulsar o espírito. Exorcistas, consultores espirituais e truques inusitados entram em cena, criando momentos que beiram o absurdo.
Ao mesmo tempo, a direção não abre mão de sustos bem construídos, aproveitando o espaço claustrofóbico do hotel para criar tensão. Portas que rangem lentamente, sombras que se movem sozinhas e silêncios prolongados mantêm o espectador em alerta, mesmo quando a sequência seguinte quebra a tensão com uma piada.
O peso do passado e a crítica social
Aos poucos, a história de Lalita ganha destaque, revelando que o hotel não é apenas cenário, mas também metáfora para temas como memória, perda e apego. O longa ainda sugere críticas sociais, especialmente ligadas ao mercado imobiliário e à corrupção em processos de construção, refletindo dilemas presentes em países do Sudeste Asiático.
Outro ponto de destaque é o subtexto sobre relações humanas: tanto o relacionamento falido de Nakrob quanto o destino trágico de Lalita funcionam como camadas adicionais da narrativa, que vai além da simples comédia de terror.
Aspectos técnicos e atuações
Visualmente, o filme se apoia na atmosfera do Sukhee Nirun. A cenografia destaca corredores escuros, lustres empoeirados e paredes descascadas que transmitem uma decadência elegante, reforçando o tom ambíguo entre medo e riso. A fotografia aposta em cores intensas que, em alguns momentos, remetem mais à comédia do que ao horror.
No elenco, Ter Chantavit entrega um protagonista persistente, marcado mais pelos fracassos do que por conquistas, enquanto Kanyawee Songmuang constrói uma Lalita complexa, ao mesmo tempo fantasmagórica e humana. Paweenut Pangnakorn complementa a narrativa, embora com uma personagem de menor impacto.
Crítica: Vale à pena assistir O Quarto 404 na Netflix?
O Quarto 404 chega à Netflix como uma proposta curiosa: um terror que não tem medo de rir de si mesmo. Entre altos e baixos, o longa encontra força no contraste entre o riso e o medo, explorando um espaço assombrado que é também palco de disputas emocionais e sociais. Para quem busca uma experiência diferente dentro do gênero, o filme tailandês oferece uma mistura singular de comédia e horror.