É complicado para um autor quando ele cria algo excelente. Não me entenda mal, a fama, o dinheiro e o reconhecimento dado a um ardo trabalho são obviamente recompensadores. Ver o mais variado tipo de pessoas comentando sobre sua obra deve ser reconfortante. Mas isso cria um problema para alguns: manter a pegada.
Tomemos como exemplo inicial Nic Pizzolatto, o cara que deu vida a True Detective. Que primeira temporada incrível foi aquela? Nic foi brilhante. Claro que é justo dividir os méritos com Fukunaga. Mas a segunda claramente deixou a desejar. Para muitos a temporada demorou para engrenar e o público não perdoou.
Então é doloroso dizer que The Bastard Executioner, pelo menos a princípio, deixa infinitamente a desejar. Se você ouviu nosso podcast sobre o Fall Season, percebeu o quanto eu estava empolgado. E nesse mundo é sempre perigoso ficar empolgado. As decepções são sem precedentes. Sim, estou decepcionado com você Kurt Sutter.
Kurt é a mente doentia por trás de Sons of Anarchy. E se você já viu o mínimo de episódios exigidos, sabe da qualidade enorme da série. Insana, sanguinária e divertidamente cruel. Isso é um resumo de SoA. Então era de se esperar um alto nível de qualidade em The Bastard Executioner. Que triste engano. Parece que Kurt pegou tudo que o tornou tão famoso no mundo das séries e fez com que jogasse contra ele.
The Bastard Executioner conta a história de um destemido cavaleiro da Era do Rei Edward Terceiro. Destruído pela guerra, ele jura nunca mais empunhar uma espada. Mas, quando a violência o reencontra, ele é forçado a voltar para os campos de batalha. Você não está equivocado se sentiu um cheiro forte de clichê. Já que eles preenchem os 90 minutos do episódio piloto.
Pode até ser culpa da longa duração, mas parece que o tempo passava mais devagar enquanto assistia o episódio. A trama se desenvolvia de maneira lenta, enchendo minha cabeça de perguntas. Eu me preparava para uma apoteose. Parecia até promissor. Mas como num golpe certeiro de espada, toda a empolgação banhou o chão de rubro. A velha trama de vingança em nada convence. A sensação de estar vindo algum filme antigo pela enésima vez é, na falta de palavra melhor, broxante.
O que também joga contra The Bastard Executioner é o período temporal em que a trama se passa. Idade Média atualmente é ligada muito a Game of Thrones, dadas as devidas proporções. Além é claro de todo o esmero da produção. Isso sem esquecer da “novata” Vikings, que sabe como poucas séries mostrar boas cenas de batalhas ferozes. E tudo isso faltou no episódio piloto.
O elenco também deixa a desejar, principalmente o ator Lee Jones, encarregado de estrelar o espetáculo. Mas isso é um velho erro de Kurt Sutter que se repete. Como não lembrar do incrivelmente inexpressivo Charlie Hunnam em Sons of Anarchy? Aliás vai ficando cada vez mais difícil tirar Sons da cabeça enquanto o episódio vai se desenrolando. Você não viu o que estava fazendo Kurt?
A pegada sobrenatural ainda garante uma curiosidade maior. São os melhores momentos do episódio. Mistérios divinos que permeiam vários dos personagens mostrados. Mas o que resta é esperar que isso também não se torne enfadonho.
Em tempos de várias estreias, é preciso que uma série te cative logo de cara. Ela tem que ser simpática para poder te prender. Aqueles motoqueiros traficante eram simpáticos. Esses guerreiros da liberdade, ou seja lá o que for, não são. Veremos se o tempo será bondoso com eles.
Kurt Sutter é pai de um filho anarquista. Mas talvez não tenha imaginado que teria tanto trabalho com seu filho bastardo.