O mais natural seria começar qualquer assunto sobre O Predador 2 – A Caçada Continua (Predator 2, 1990) destacando o quanto esta continuação do clássico filme de ação sci-fi estrelado por Arnold Schwarzenegger decepciona. Porém, revendo o longa depois de muito tempo, e observando os esforços dos criadores para se criar um universo expandido que deixasse o personagem ainda mais forte no imaginário da cultura pop, resolvi dar um crédito a mais para a produção, dessa vez dirigida por Stephen Hopkins (A Sombra e a Escuridão), tendo como grande estrela o parceiro de Mel Gibson em Máquina Mortífera, Danny Glover.
A ideia era trazer o personagem alienígena para o ambiente urbano, depois do brutal teste de sobrevivência na floresta passado por Dutch, personagem de Schwarza, em 1987. Tal qual a mata foi uma espécie de prisão e armadilha para os ali presentes, a ideia foi replicada na cidade de Los Angeles, nos EUA, e o mesmo vale para o calor infernal (reforçando a predileção do alien por ambientes de temperatura elevada), onde vemos os personagens suando e reclamando do tempo constantemente.
O filme se passa em uma Los Angeles futurista e caótica, onde um implacável caçador alienígena começa a eliminar membros de gangues rivais e policiais. O tenente Mike Harrigan, interpretado por Danny Glover, decide enfrentar a ameaça desconhecida. À medida que ele investiga, descobre que o Predador é um ser extraterrestre caçando humanos por esporte, levando a um confronto mortal nas ruas da cidade.
O Predador 2 contou com novo diretor e nova ambientação, mas isso bastou?
O diretor Stephen Hopkins vinha de A Hora do Pesadelo 5 (1989), um trabalho com grande franquia do terror mas que não rompe a bolha do público do slasher, e seu trabalho seguinte foi o competente thriller Uma Jogada do Destino (1993). Seus trabalhos não conseguiram, portanto, romper a barreira do que é considerado mediano ou trivial em termos de qualidade.
O Predador 2 nem conseguiu se pagar em território norte americano. Com um orçamento estimado em US$ 35 milhões, seu desempenho nas bilheterias do cinema por lá ficou na casa dos US$ 30.6 milhões. Mundialmente, o montante acabou em torno dos US$ 57 milhões, sendo assim um lucro considerado baixo para os padrões da época. Se compararmos com a bilheteria do primeiro filme, a queda fica ainda mais acentuada: Foram investidos algo em torno dos US$ 15 milhões, para um retorno de quase US$ 100 milhões. Podemos afirmar, portanto, que Predator e sua sequência de 1990 tem suas bilheterias equivalentes à qualidade final de cada projeto.
Danny Glover já havia estrelado dois filmes da franquia Máquina Mortífera quando Predator 2 foi lançado, e gravou o terceiro filme da série com Mel Gibson logo em seguida, lançado em 1992. Glover é um veterano da indústria, tendo participado de dezenas de filmes e séries ao longo dos anos (a maioria são produções esquecíveis, mas com algumas obras de peso como A Cor Púrpura, Ensaio Sobre a Cegueira e Jogos Mortais no caminho). Danny, que completará 78 anos em julho deste ano, é atualmente embaixador da boa vontade na UNICEF e seu último trabalho como ator foi em 2023. Será que ainda veremos mais um “Máquina Mortífera” para fechar a franquia com 5 filmes?
Alien “dos nossos”. Latinos e africanos, nem tanto
Mas voltando a Predador 2, fica bem claro que ele foi uma escolha certa para o papel, e talvez resida nele o motivo para que a produção não tenha sido um desastre total. Além de uma atuação segura (ainda que não fuja do campo comum em relação aos personagens que ele já tenha interpretado), a proposta de um cenário urbano combina muito mais com a sua figura do que com a de outros atores como Sylvester Stallone e o próprio Schwarzenegger (mais atrelados ao militarismo, enquanto Glover possui o perfil do clássico detetive da LAPD. De tabela, sua presença como ator negro pode ser observada como um contraponto ao forte teor xenofóbico do roteiro, que caracteriza a criminalidade da cidade na figura dos latinos e africanos com as gangues colombianas e jamaicanas. Tal “retrato” não passa de um preconceito que ainda existe na sociedade estadunidense, mas que na época era ainda mais escancarado em filmes e séries.
Do ponto de vista narrativo, os irmãos Jim e John Thomas não conseguem construir algo tão bom quanto antes e, ao mesmo tempo, não demonstram muita habilidade para contar uma história investigativa como indica a premissa. Há uma insistência em explicar eventos passados que acaba gerando cenas bobas, como quando Peter Keyes (Gary Busey), líder da divisão especial que investiga o Predador, explica como um verdadeiro bucho furado tudo para o detetive Harrigan, sendo que antes disso guardava todos os segredos a sete chaves, no auge da sua soberba. A participação de Bill Paxton como Jerry é outro destaque negativo, sendo um personagem de piadas ruins e utilidade zero à trama.
Ao menos há algum desenvolvimento na mitologia do personagem, assim como mais nuances acrescidas à sua persona. Já conhecemos o caçador com algum senso de honra entre seu esporte, mas dessa vez vamos além com ele poupando a vida de uma policial justamente por ela estar grávida. A edição de Mark Goldblatt e Bert Lovitt deixa de mostrar explicitamente mortes importantes, enquanto os vilões latinos e africanos, como quem colhe o que plantou, aparecem ostentando suas vísceras ao espectador.
A cereja do bolo de O Predador 2 acabou sendo, portanto, em meio a crânios de seres humanos e de outros não identificados no mundo real e ficcional, o do Xenomorfo da franquia Alien, apresentado em 1979 com Alien – O Oitavo Passageiro. Nesse momento, tivemos a primeira pista de que as duas criaturas poderiam um dia se encontrar nos cinemas, um embate pra lá de esperado pelos nerds e fãs de ficção científica. O resultado disso? Melhor comentarmos mais pra frente… depois de rever Alien vs Predador e chegar a um veredicto do que realmente foi aquela produção lançada em 2004.