Através da mente dos irmãos e roteiristas Jim e John Thomas, em 1987 chegava aos cinemas um “filme de alienígena” com atributos mais humanos do que o comum. O Predador (Predator), dirigido por John McTiernan (Duro de Matar) e estrelado pelo astro brucutu Arnold Schwarzenegger (que já estava bem estabelecido na época, depois de O Exterminador do Futuro e dois filmes do Conan), marcou uma geração com premissa simples mas bem executada, reforçada pelo arrebatador visual da criatura caçadora que dava nome ao filme.
O Major Alan “Dutch” Schaefer (Arnold Schwarzenegger) e sua equipe de resgate de elite são chamados para uma missão secreta na América Central. Eles são enviados por George Dillon (Carl Weathers), um agente da CIA e antigo camarada de Dutch, para resgatar reféns de guerrilheiros que derrubaram um helicóptero do governo.
À medida que a equipe avança pela densa selva, eles descobrem corpos mutilados que sugerem algo mais sinistro do que uma simples operação de guerrilha. Logo, fica claro que estão sendo caçados por uma entidade tecnologicamente avançada.
Mesmo não sendo uma produção tão sofisticada quanto Alien – O Oitavo Passageiro (1979), por exemplo, O Predador apostou em alguns potenciais alvos de mercado que certamente contribuíram para o seu sucesso. A começar pelo seu protagonista, vivido por Arnold Schwarzenegger, já surfando na onda de grandes papéis no cinema após uma consagrada carreira no fisiculturismo, modalidade essa que gozava de grande prestígio e popularidade na época. Desse modo, canalizando os fãs do mundo maromba e os de filmes de ação, Arnold foi sozinho o responsável por grande parte da visibilidade adquirida pelo longa no lançamento.
Ação com pitadas de suspense e sci-fi é que dá o tom em O Predador (1987)
Não é a toa que O Predador remeta muito mais a ação do que terror e ficção científica. Schwarza vinha do explosivo Comando Para Matar (1985), tendo atuado antes disso em Conan, o Destruidor e O Exterminador do Futuro, ambos em 1984. Colocar o astro para combater uma criatura igualmente musculosa fazia todo sentido, então os irmãos Thomas desenvolveram a ideia e roteiro.
Foi concebido, assim, um alienígena que de tempos em tempos vinha para a Terra com o intuito de praticar o seu esporte favorito que é a caça. Dotado de recursos tecnológicos avançados para esse fim, o principal alvo é (como não poderia deixar de ser) a raça humana, sempre metida em alguma guerra ou violenta disputa de poder. Tal comportamento, naturalmente, acaba despertando o interesse desse ser em busca desafiantes à sua altura. A selva, localizada em algum lugar da América Central, é outro fator determinante para nosso visitante hostil: ele prefere localizações de elevada temperatura, para facilmente identificar suas presas através da visão de calor.
John McTiernan seria o responsável, desse modo, por entregar o espetáculo cheio de esteroides.
Predator: do mesmo diretor de Die Hard
Seu trabalho final é convincente, explorando muitos dos aspectos propostos pelo roteiro como a posição do militarismo dos EUA no mundo, partindo da ideia de que “o outro” é sempre um inimigo em potencial (seja pessoa ou alienígena). Além disso, a desconstrução do ser humano como um ser civilizado até o embate final, quando Dutch assume a mais primitiva das condições para manter sua vida, é outro ponto de destaque pois expõe a versatilidade do Homo sapiens de adaptação aos cenários mais extremos. Donald McAlpine é quem conduz a lente pela floresta, retratando todo o calor que transforma a natureza (essencialmente vasta e benéfica), numa verdadeira prisão cheia de armadilhas – ou num parquinho de diversões no ponto de vista do predador.
O confronto do final de O Predador é uma das melhores coisas do filme não apenas pela sequência cheia de ação e a devida exposição da criatura (rendendo a hilária fala de Dutch: “você é muito feio”), mas também por tudo que antecede a luta. A preparação quase que ritualística do major, culminando num estrondoso grito de guerra para provocar o adversário, aguça o espectador num misto de admiração pela coragem, mas também de medo pela incerteza da vitória. Sendo assim, mesmo que com piadas cafonas, poses exageradamente expositivas e alguns problemas na apresentação da ação, a condução narrativa de O Predador é coroada com seu ato final.
Jean-Claude Van Damme e James Cameron: duas participações não creditadas
Um fato curioso é que outro astro da ação, Jean-Claude Van Damme, chegou a participar das gravações do filme trajando uma vestimenta para o alienígena que viria a ser reprovada pela produção, além de rumores sobre seu insatisfatório desempenho no set, culminando assim em sua saída de O Predador de 1987. Van Damme, ao contrário de Arnold, ainda não tinha fincado seu nome no cinema de ação, conquista essa que ele pôde ostentar logo no ano seguinte com O Grande Dragão Branco, de 1988.
Quanto ao visual, Stan Winston foi o responsável por dar a feição eternizada do caçador espacial neste longa de estreia, porém, o grande James Cameron (que tinha há pouco lançado Aliens, O Resgate, em 1986) chegou a contribuir com o processo ao sugerir as asquerosas mandíbulas do personagem.
Em suma, podemos supor que ambas as participações, mesmo que não creditadas no final, tiveram sua importância: a de Jean-Claude por passar pelo processo de tentativa e erro até se chegar numa atuação satisfatória para o Predador (que acabou sendo interpretado por Kevin Peter Hall, no final das contas), e a de James Cameron por fazer uma sugestão certeira a respeito do visual do Predator.
Surgindo como uma ótima alternativa para o público tanto da ação, ficção científica ou mesmo do terror, Predator é, ao seu modo, um marco na história do cinema, mesmo que suas continuações não tenham correspondido a altura. Mas isso é assunto para um outro momento. Caso queira ver e rever esse e os outros longas da franquia, as produções se encontram disponíveis no serviço de streaming Disney+.