Dirigido por Paul Greengrass e estrelado por Matthew McConaughey, O Ônibus Perdido (The Lost Bus, 2025) revive um dos episódios mais devastadores da história recente dos Estados Unidos: o incêndio Camp Fire, que destruiu a cidade de Paradise, na Califórnia, em 2018. A produção da Apple TV+ combina o estilo documental característico de Greengrass com o ritmo nervoso de um thriller de sobrevivência, explorando o heroísmo anônimo de pessoas comuns diante do caos absoluto. Leia a nossa crítica:
O contexto real e o olhar de Paul Greengrass em O Ônibus Perdido
O diretor britânico, conhecido por obras como Voo United 93 e Capitão Phillips, retorna ao território do “baseado em fatos reais” para reconstituir a história real do avanço do incêndio que tirou 85 vidas e destruiu mais de 18 mil construções. Greengrass aposta novamente na câmera trêmula, nos cortes rápidos e no som ensurdecedor das chamas para recriar a sensação de desespero. Cada estalo, cada rajada de vento e cada farfalhar de folhas carregam tensão.
Embora alguns críticos questionem o excesso do estilo visual frenético, o resultado é imersivo. A sensação é de estar preso dentro do ônibus junto ao protagonista, cercado por fumaça, calor e medo. Greengrass filma a tragédia com uma urgência quase documental, reforçando a escala humana do desastre.
A jornada de Kevin McKay: uma história real
Matthew McConaughey interpreta Kevin McKay, um motorista de ônibus escolar que vive um momento pessoal conturbado. O personagem tenta lidar com o divórcio, o afastamento do filho adolescente, a doença da mãe e a perda do cachorro — uma sucessão de tragédias pessoais que serve de pano de fundo para a ação principal.
Quando o incêndio começa a se espalhar e a cidade entra em colapso, Kevin recebe o chamado para evacuar uma escola com 22 crianças. A princípio relutante, ele decide encarar o risco, iniciando uma corrida contra o tempo para salvar vidas. Ao lado da professora Mary Ludwig (America Ferrera), o motorista tenta manter as crianças calmas enquanto enfrenta engarrafamentos, estradas bloqueadas e o avanço das chamas.
Realismo e tensão contínua no longa estrelado por Matthew McConaughey
Grande parte da força do filme está na capacidade de Greengrass de transmitir urgência. As cenas dentro do ônibus são filmadas de modo claustrofóbico, com a fumaça obscurecendo a luz do sol e a paisagem se transformando em uma massa de fogo e destruição. Mesmo que o uso de CGI seja perceptível em alguns momentos, a intensidade emocional compensa qualquer artificialidade.
O roteiro, escrito por Greengrass e Brad Ingelsby (criador das séries Task e Mare of Easttown), se apoia em clichês do gênero, mas encontra força nas atuações. McConaughey entrega uma performance contida e crível, transmitindo pavor e determinação sem precisar de longos diálogos. America Ferrera também tem papel decisivo, equilibrando calma e desespero diante das crianças apavoradas.
Temas e omissões da história real
Apesar de abordar uma tragédia real, O Ônibus Perdido evita discutir diretamente as causas do desastre. O filme menciona brevemente o papel da Pacific Gas and Electric — cuja falha em uma linha de energia iniciou o incêndio — e o aumento anual de queimadas na Califórnia, mas não se aprofunda na questão climática ou política. Greengrass parece optar por concentrar-se na sobrevivência imediata, evitando debates sobre responsabilidade ambiental.
Essa escolha limita parte do impacto dramático, já que o longa poderia dialogar com questões contemporâneas sobre crise climática e negligência corporativa. Ainda assim, o foco no microcosmo — um homem, uma professora e um grupo de crianças — sustenta a carga emocional da narrativa.
Crítica: O Ônibus Perdido é um thriller de sobrevivência com alma documental
O Ônibus Perdido reafirma Paul Greengrass como um dos principais diretores do cinema de desastre realista. O filme combina a estética urgente de Capitão Phillips com o retrato humano de Voo United 93, criando uma experiência de tensão constante.
Mais do que um espetáculo visual, a obra funciona como um tributo aos que enfrentaram o Camp Fire de 2018. Embora o roteiro se perca em convenções melodramáticas e o estilo visual possa causar exaustão, o longa mantém o público imerso até o fim.
Em sua primeira atuação no cinema desde 2019, McConaughey entrega um retrato sólido de heroísmo silencioso, lembrando o espectador de que, mesmo nas maiores catástrofes, a salvação pode vir dos gestos mais simples — como um motorista que decide não abandonar o ônibus. Assista ao filme no AppleTV+.