A série O Mecanismo acaba de retornar com novos episódios na Netflix, e apesar de ter visto apenas um deles, preciso vir aqui para ressaltar algumas coisas.
Mas antes, precisamos lembrar que a série causou polêmica em seu lançamento no passado, onde o criador José Padilha retratou alguns políticos do cenário brasileiro de modo questionável. Quem faz parte da ideologia mais à esquerda, não gostou dos personagens correspondentes a Lula e Dilma, ao passo que figuras da direita como o personagem análogo a Aécio Neves sofreu do mesmo efeito. No entanto, o que mais causou revolta foi o fato de colocar frases do mundo real na boca de políticos diferentes, como no caso do “estancar a sangria”.
José Padilha sabe que errou nesse último ponto, e tratou de, dessa vez, por na boca de um político da direita a mesma frase – no claro intuito de banalizar seu efeito, colocando panos quentes na questão. Porém, para não perder seu viés crítico, a série conta com uma nova abertura mostrando os políticos de Brasília na sugestiva música “Se Gritar Pega Ladrão” de Bezerra da Silva.
O que melhorou e o que continua igual em O Mecanismo?
Algumas melhorias técnicas já podem ser apontadas, como o fato de agora entendermos um pouco melhor a narração de Selton Mello. Há também alguma sensação de correria, mostrando o ex-delegado da polícia federal sendo perseguido antes de ir conversar com uma testemunha crucial para seu caso clandestino.
Mas antes de voltar a elogiar, gostaria de fazer alguns destaques negativos.
A trama política é desinteressante. O caso real que inspira a trama de O Mecanismo é bastante técnico, tendo como grande holofote o montante financeiro desviado. Fora isso, não há muitos elementos para tornar o produto televisivo algo palatável, e a escolha de Selton Mello, dotado de grande carisma, deveria suprir essa questão. Não supre.
Os diálogos ainda não ajudam. Há uma insistência em intercalar Rufo narrando com palavras como “foda” com conversas que respeitam o português de modo invejável, preciosismo que é um verdadeiro sintoma na maioria da produções brasileiras.
Por fim, em tempos de guerra híbrida com um presidente como Jair Bolsonaro no poder, é difícil evitar que O Mecanismo fique datado em seus assuntos. Talvez os próximos episódios possam promover uma aproximação nesse sentido.
Mas vale a pena tecer um elogio sobre a série aqui, emendando com uma dica. Se você conseguir acompanhar os episódios na Netflix como uma comédia, garanto que é diversão garantida. É só lembrar de notícias recentes envolvendo o Juiz Moro (Rigo na série), onde ele troca a palavra “cônjuge” por um jocoso “conge” ou “conje”. Tenha isso em mente quando a filha do personagem pede para ele explicar o significado de “tirano” ao ver o pai ser criticado na TV, e você terá momentos de riso.
Um personagem bacana também era Roberto Ibrahim (Enrique Diaz), e ele está de volta nessa segunda temporada. Seu núcleo traz interações interessantes, que deve retratar uma corrupção ainda mais marginal nos próximos episódios. A conferir.
Vou terminar de assistir O Mecanismo, e volto para uma análise completa para poder ser mais justo.
Aproveite para ouvir nosso podcast sobre a primeira temporada da série.