Kimetsu no Yaiba (ou Demon Slayer, nome pelo qual a obra chegou em terras ocidentais) é um mangá de estilo shonen, criado pela mangaka Koyoharu Gotōge, e que está em publicação pela revista Shonen Jump, desde 2016.
A história se orienta muito por lendas e culturas japonesas, trazendo, por exemplo, a questão dos Oni’s – e aqui abrimos um ponto, pois no Japão esta criatura possui forma humanóide, com rostos que podem mesclar uma noção de antropomorfismo. Essas criaturas, geralmente, possuem chifres. Daí, entram os famosos Ogros, seres grandes com chifres e presas, bastante popularizados em obras ocidentais – e sua relação com os humanos, tratando-os como uma forma de alimentação e longevidade.
Essa tensão entre os demônios e humanos apresenta um paralelo com outra lenda conhecida largamente no mundo: vampiros. Aqui, a relação dos demônios com o sangue é vital (literalmente), pois estas criaturas dependem dele – nascem, matam e morrem pelo sangue (Bloodborne feels), tornando uma entropia necessária para que possam sobreviver e se fortalecer.
Outra característica marcante são os espadachins, que não necessariamente são Samurais, mas se utilizam da Katana (ou não) como suas armas principais. É nesse cenário que conhecemos o personagem principal da história, Kamado Tanjiro, um garoto que mora com a sua família numa montanha, de forma simples, vivendo da venda do carvão em um Japão do Período Taisho (1912 – 1926), que busca o desenvolvimento de sua economia.
Um dia, após sair de casa para vender o carvão, Tanjiro volta e vê sua família massacrada; apenas sua irmã, Nezuko, sobrevive, apesar dos ferimentos. No desespero, Tanjiro pega sua irmã e tenta leva-lá para o médico da região, e nessa caminhada Nezuko desperta com uma fúria animalesca por sangue. Mas ela ainda demonstra traços de sua humanidade, e é com isso e alguns encontros que o personagem começa sua trajetória de lutas contra os demônios, a fim de buscar uma possível cura ou reverter esse processo de “onização”.
Não é um história com nada demais, não é?
Por que eu gosto?
A narrativa, apesar de beber de diversas fontes da cultura pop – seja nipônica ou mundial, é boa, pois constrói aos poucos a preparação para o clímax. Os desenvolvimentos dos personagens, as caracterizações, as ambientações e as lutas, que é um dos grandes focos, são características que tornam o mangá o que é hoje.
Até este momento, Kimetsu no Yaiba está com 168 capítulos lançados (15 volumes), e a história anda em seu próprio ritmo, apresentando personagens, demonstrando suas camadas e evoluindo Tanjiro para que este possa enfrentar desafios cada vez maiores.
Os caçadores de demônios possuem técnicas que utilizam a respiração como fonte de poder. O fluxo de melhoria dos personagens é baseado na experiência e em como eles utilizam estes “poderes”. Aí, entra a diversidade que o mangá apresenta. Cada caçador possui (ou deve possuir) um mestre. E com este mestre, você aprende/domina uma respiração que envolve algum “elemento natural/biológico” (seja água, ar, flor, som, amor, inseto…), com um número de movimentos especiais/forma para cada respiração. Por exemplo, Tanjiro aprende uma respiração que possui 10 movimentos especiais. E cada um destes tem uma postura que pode ser utilizada para determinadas situações.
Mas, além desse básico de “shonen de luta”, você encontra camadas por trás dos personagens apresentados. Assim, não apenas Tanjiro é desenvolvido, mas todos aqueles que acabam por cercá-lo. Mesmo que seja nos apresentado um personagem que não tenha mais o que aprender, acabamos vendo seu passado, o modo que ele pensa e o que este faz sobre determinados momentos, enriquecendo a narrativa.
Aliando as histórias com as complexidades dos personagens, temos um mangá que acaba utilizando todo o universo shonen – com a base de lutas e técnicas – como um pano de fundo para contar uma história. Mas a ambientação é um ponto que alavanca tudo. Os cenários são utilizados nas lutas e fazem sentido na narrativa, contribuindo para deixar tudo mais fluido. Ou como se vê em alguns momentos, a autora utiliza alguns recursos visuais que acabam deixando as lutas mais dinâmicas – como um “brusheado” em alguma parte de um personagem ou escondendo determinada parte do corpo que será usada no quadrante seguinte.
O sucesso pode prejudicar o andamento do mangá?
O mangá tem sido um sucesso de vendas no Japão. Não é para tanto, pois este ano tivemos o inicio do anime, o que fez com que a obra se popularizasse, ainda mais. De acordo com Hon-Hikidashi, as vendas de Kimetsu no Yaiba subiram de uma forma estrondosa, desde seu lançamento para a televisão. Confira o gráfico abaixo:
A história, possivelmente, está entrando em seu arco final. E com o inicio do anime, pode ser que o ritmo do mangá, que foi construído ao longo das publicações, possa ser quebrado. Como? Alongando o que não é necessário para o andamento da história. Mas esse sucesso todo do anime não é por acaso.
O estúdio por trás da animação é o Ufotable, conhecido pelas animações de Fate/Stay Night e Fate/Grande Order, Tales of Symphonia, além de trabalhar em jogos, como God Eater, a série de Tales of (Xillia, Zestiria e Berseria) e Code Vein.
A animação está com uma qualidade ótima. A ambientação aqui é utilizada de forma primorosa. As cores e a trilha sonora também chamam atenção. O visual que o estúdio trouxe para o anime é muito bonita. Não com aqueles 3Ds destacados, que poderia ter sido utilizado, mas com cores chamativas, que acabam dando um toque de vida aos personagens e cenários que você não costuma encontrar.
Kimetsu no Yaiba, possivelmente, está próximo de seu fim. Mas ainda tem muita coisa a ser revelada. O fato do anime ter impulsionado às vendas do mangá não diz se ele é bom ou ruim, apenas que ficou popular. Com certeza, a Shonen Jump irá querer arrancar mais coisas dessa história, pois estamos falando de dinheiro e visibilidade.
Se você tiver ficado a fim de ver o anime ou ler o mangá, garanto que não será uma perda de tempo.