Desde que o último filme de Harry Potter foi exibido, não é segredo que Hollywood procura pela nova grande franquia infanto-juvenil. Muitos filmes se candidataram ao posto e tiveram resultados decepcionantes, como por exemplo Percy Jackson. Aí podemos apontar vários fatores para explicar os motivos por trás disso. História, diretores, atores e etc. O fato é que essa não é uma tarefa fácil.
A Fox, que já tem em seu currículo de tentativas fracassadas Crônicas de Nárnia, Percy Jackson e Maze Runner, apostas suas fichas em O Lar das Crianças Peculiares. E pode começar, finalmente, a vislumbrar um futuro mais brilhante pela frente. O longa é baseado na obra escrita por Ransom Riggs, que até hoje acumula uma base sólida de fãs. Na trama, Jake (Asa Butterfield) é um adolescente que cresceu ouvindo as incríveis histórias contadas por seu avô Abe (Terence Stamp). Quando seu avô é morto em circunstâncias misteriosas, ele descobre que as histórias eram reais. Então, Jake parte em uma jornada para encontrar o Orfanato de Miss Peregrine (Eva Green) e as crianças peculiares que nele habitam.
A direção ficou nas mãos de Tim Burton, que está longe do auge já faz um bom tempo. Por isso é importante destacar o quanto seu trabalho foi bem realizado aqui. Longe das amarras criadas pelo seu estilo “excêntrico”, ele entrega seu filme mais divertido em anos. Dosando bem suas assinaturas visuais, Tim Burton deixa o “sombrio” (palavra da moda no cinema) de lado e aposta em algo mais leve, que encanta os olhos. Mesmo nos momentos mais peculiares (viu o que eu fiz aqui?), o diretor não deixa a peteca cair, pesando a mão no CGI apenas quando necessário.
O roteiro escrito por Jane Goldman também auxiliou o trabalho de Tim. Como estamos falando de uma adaptação, não existe muito tempo para construir o clima presente no livro. Por isso as claras divisões entre os momentos de explicação e imersão na trama são importantes. Os personagens estão sempre assumindo a função de situar o espectador naquele universo, algo bastante comum em filmes do gênero. Claro, existem algumas inconstâncias, mas nada que destrua a experiência.
Mas o grande trunfo de O Lar das Crianças Peculiares está em seu elenco. Não em Asa Butterfield que não consegue convencer em nenhum momento ou na sempre maravilhosa Eva Green. Mas justamente nas Crianças Peculiares. Passaria facilmente duas horas assistindo apenas a interação entre eles. A forma como suas peculiaridades são apresentadas também é um grande acerto. Os gêmeos com visão petrificante, o garoto que tem abelhas vivendo dentro de si, a garotinha fofa e super forte, o garoto invisível. Todos cativantes.
Na turma dos mais crescidos, Emma (Ella Purnell) e Enoch (Finlay MacMillan) se destacam. Os vilões são o outro lado da moeda, passando longe de criar algum tipo de envolvimento com o público. Claro, eles representam um grande perigo para os peculiares, mas ficam devendo nos momentos de maior tensão. Samuel L. Jackson tem uma atuação peculiar (sim, eu fiz de novo), passando sempre a figura de canastrão. Ainda assim é sempre legal vê-lo em ação. Ah, também tem uma pequena participação de Judi Dench ¯\_(ツ)_/¯
Com elementos de fantasia e viagem no tempo, O Lar das Crianças Peculiares tem seus erros e acertos. Mas pode muito bem fisgar as crianças e os jovens de hoje em dia, tão carentes de um pouco de magia no cinema. Além de mostrar que todos nós temos nossas “peculiaridades” e que devemos abraça-las. Um ensinamento precioso, que deve ser aprendido desde cedo.
Obs: “Wish That You Were Here” do Florence + The Machine é uma das músicas mais lindas em trilhas sonoras desse ano.