Sinopse: Após ser traída pelo marido, a professora Claire Peterson (Jennifer Lopez) está em vias de se divorciar. Ela vive sozinha com o filho adolescente, até perceber que um jovem acaba de se mudar para a casa ao lado. O sedutor Noah Sandborn (Ryan Guzman) rapidamente oferece ajuda nas tarefas da casa e se torna o melhor amigo do filho de Claire. Aos poucos, o vizinho passa a seduzi-la, levando a uma noite de amor entre os dois. No dia seguinte, a professora está decidida que tudo foi apenas um erro, mas Noah não pretende abandoná-la tão cedo. O caso de amor torna-se uma perigosa obsessão.
A trama
A apresentação inicial dos personagens é muito rápida e vaga. Sabemos que Claire está querendo se divorciar do marido, mas demora um tempo de enrolação para descobrirmos que foi o motivo de sempre: o casamento “não estava dando certo”, então ele “cometeu um erro” e a traiu várias vezes com a secretária. A protagonista está magoada, confusa e vulnerável. Sua melhor amiga não para de esfregar na sua cara a traição do marido, Garret, que vive aparecendo na sua casa, pedindo por jantares em família, viagens em família… Isso tudo, 9 meses depois de se separarem. Claire se sente desconfortável, seu filho adolescente parece alheio ao que o pai fez ou a gravidade do ocorrido e pressiona a mãe, mas ela não cede.
Nesse ínterim, eles conhecem o sobrinho-neto do vizinho, Noah, um rapaz de quase 20 anos que precisa refazer o último ano da escola, pois os pais haviam morrido no ano anterior e ele não conseguira cumprir o resto do ano letivo. Ele é bonitão, saradão, galanteador, muito solícito e educado, e logo fica amigo de Kevin, o filho de Claire, que se anima por ter um amigo tão descolado – enquanto na escola ele sofre bullying.
Quando pai e filho viajam, Claire fica sozinha e acaba saindo para um encontro às cegas com sua melhor amiga, Vicky, que apresenta um babaca e obviamente que a protagonista vai embora. Ninguém quer um encontro com um babaca. E nessa cena, surpreendentemente, Vicky tenta arranjar desculpas sobre o comportamento de Claire, como que para apaziguar os ânimos dos rapazes. Olha o vacilo, mulher!
Acontece que, após tudo isso, Claire está ainda mais solitária e vulnerável, e Noah a chama na casa dele para ajudá-lo com algo e eles acabam transando. Como na nossa sociedade, uma mulher mais velha pegar um cara com a metade da idade dela é extremamente errado, ela se sente muito mal com o acontecido e tenta encerrar aquele episódio, sem entender que Noah está completamente OBCECADO por ela. E daí para o resto do filme, a narrativa, antes em câmera lenta e até meio chata, anda mais depressa, como se para mostrar logo quem é de verdade Noah, o quão perigoso ele é. Em diversos momentos ele a ameaça “em nome do amor” que sentem um pelo outro, e chegamos até o ponto em que ele quase a estupra.
A tecla do quão perigoso ele é acaba sendo batida várias vezes então, mostrando diversas facetas: agressiva, perseguidora, sem limites, completamente insano. Ao menos ninguém tentou nomear o comportamento dele como sendo parte de algum transtorno mental ou o chamando de monstro – uma forma de desumanizar a pessoa e fingir que seres humanos não são capazes de cometerem atos hediondos. Ela tem que ser doente ou um monstro. Não tem meio termo.
E, como a trama não decide se vai rápido ou devagar, acaba que não dá para se apegar a ninguém. Não que Jennifer Lopez seja uma má atriz, ela trouxe tudo o que a protagonista precisava. Mas essa divergência na hora de escolher entre apresentar apropriadamente os personagens e mostrar logo o perigo, acabou tirando muito da nossa interação com eles, a ponto de não sentirmos tanto por ele. Ou, ao menos eu não. As coisas que me incomodaram foram outras, e direi logo a seguir.
Por que o machismo nosso de cada dia?!
O problema central da trama é apresentado na forma de Noah. Ele é perigoso, selvagem, obsessivo, capaz de tudo. Para mim, o problema verdadeiro é o machismo e a misoginia que são introduzidos de maneira bem óbvias, mas você precisa estar ligado nesses assuntos para ver.
Começamos com o fato de que, na maioria dos filmes em que um cara mais velho fica com uma mulher mais nova, por mais “imatura” que ela pareça ser, o relacionamento dá certo. E isso é até esperado de homens, que, em certo momento, eles larguem suas esposas feias, acabadas e chatas por mulheres novas, interessantes e gostosas. Porém, em nenhum filme que eu assisti em que uma mulher mais velha fica com um cara mais novo, o relacionamento deu certo. Porque mulheres maduras querem casar, ter filhos, montar a sua família e homens mais novos querem um Playstation 5, beber cerveja com amigos e curtir a vida adoidado. O que é uma visão MUITO limitada em relação às mulheres.
Somos resumidas a querer casar, ter filhos e montar um lar. Enquanto homens, não importa se são mais velhos ou mais novos, normalmente – mas não sempre, claro – são exibidos como caras que só querem curtir. Se eximem das responsabilidades, que ficam nas mãos da mãe chata, da esposa rabugenta. É exibido com naturalidade a nossa jornada dupla ou tripla, trabalhando fora, cuidando da casa, dos filhos, do marido, e é tudo muito comum. É o que sempre vemos. O cara chega em casa, está exausto, só quer sentar no sofá e tomar uma cerveja, assistindo algum jogo, jantar tranquilamente com a família e ir dormir. Como se nós, mulheres, não quiséssemos chegar em casa, pôr os pés para cima, tomar uma cerveja, assistir a um documentário de Serial Killer e jantar com a família!
E esse, para mim, é o maior perigo do filme. Claire não pode se interessar por Noah, não pode ter tesão nele, não pode transar com ele. Ele grava uma fita dos dois, e se vazar, ELA perde tudo. Ele nem ganha, nem perde. No máximo o apelido de garanhão. Então, como a protagonista não pode gostar dele, e resolveram que o filme seria de terror/ suspense, Noah tem que ser louco, pois Claire não pode ter sentimentos por ele. É errado. Ela não seria mais uma mulher respeitável. E seu ex-marido, que a traiu várias vezes, com certeza a condenaria como vagabunda ou coisa pior.
E esse, senhoras e senhores, é o verdadeiro plot dessa história.
No fim das contas, o filme é bom?
Não. Ele é apressado, ligeiramente confuso e traz todos os questionamentos que eu levantei acima, sem refletir nenhum deles. A preocupação é sempre que ninguém descubra, e Claire se sente o tempo todo culpada e age muito pela culpa, até mesmo em relação ao seu ex-marido traidor, que recebe um certo arco de redenção. Não importa o quão escroto ele foi antes, a partir de determinadas ações dele, a protagonista o perdoa sem pensar duas vezes.
Além disso, eles tentam dar um background trágico para Noah, mas falham miseravelmente na montagem do personagem. A sorte é que o ator é carismático e consegue transmitir, ao mesmo tempo, o perigo necessário para ele. Mas nas mãos de outro ator, é possível que não tivesse dado certo.
Pode ser que valha a pena você assistir para observar essas questões, o filme não é de todo ruim. Dá para passar bem o tempo. Mas se quer algo realmente assustador, vá assistir Insidious, algo da série Invocação do mal, ou até mesmo o documentário sobre Ted Bundy. Esses sim vão trazer algo para te manter acordado.