O filtro chinês que pode esvaziar (ainda mais) o drama dos filmes pipoca

Restrição na China pode não ser tão positiva para as franquias que amamos

Maior país da Ásia Oriental, a China tem sido um dos grandes players há algumas décadas no mercado internacional. Seu crescimento é astronômico e para isso o governo socialista do país não teve vergonha alguma em aderir e se relacionar com os conceitos do capitalismo, modelo econômico adotado pela maioria das nações desse mundão. Sempre com o cuidado para que seu povo não resolva adotar certas práticas democráticas, como dizer o que pensa e protestar por mudanças.

Sendo assim, a intenção do governo é controlar ainda mais filmes e séries que chegam à China, mais especificamente as que “incentivam a admiração pelo estilo de vida ocidental”. A notícia é do Omelete (via The Guardian), onde ainda é citada uma nova legislação que busca a luta por “valores socialistas centrais”.

Mas qual relação isso tem com ‘meu’ BvS, Transformers ou Star Wars?

Esses filmes pipoca, comerciais ou blockbusters (use o termo de sua preferência) vêm de Hollywood, e de uns anos pra cá a renda de suas custosas produções tem se beneficiado cada vez mais da populosa bilheteria chinesa (só para constar: há cerca de 1,36 bilhão de “serumaninhos” habitando aquele país), mesmo com a já existente dificuldade de se lançar um filme por lá com o prazo adequado, como ocorre no Brasil. Como prova, é só lembrar do que arrecadou Transformers – A Era da Extinção (US$ 222,7 milhões, números parciais), Avatar (US$ 221,9 mi) e o mais recente Warcraft (S$ 145 milhões em quatro dias). Este último, inclusive, com grandes chances de ganhar uma continuação exclusiva nos cinemas chineses devido à decepção com a bilheteria do resto do mundo.

Há um grande mercado a ser desbravado por lá, e com base nisso a tendência é que a curva de dramaticidade desses filmes caia ainda mais, já que um grande meio de aprofundar personagens é justamente mostrando sua cultura, seus dilemas e rotina. E isso pode ser interpretado como propaganda do estilo de vida ocidental facilmente. Os três longas supracitados, por exemplo, são grande exemplo de como um filme pode ter personagens vazios.

Algumas picotadas já ocorrem a um bom tempo, logicamente. Homem de Ferro 3 teve personagens chineses inseridos na trama e nunca mostrados. O vindouro Doutor Estranho mudou a origem de personagens tibetanos para não entrar em polêmica e até mesmo Quentin Tarantino teve seu Django Livre editado para se adaptar ao mercado. Até aí, problema dos chineses. Mas quem garante que para se adaptar e aumentar essa fatia do bolo as produtoras não estabeleçam desde a ideia inicial mostrar muito mais ação (sem violência) para não ter grandes problemas com edição? Até porque é difícil imaginar que tais medidas sejam com o propósito de fortalecer o cinema chinês, e mais difícil ainda acreditar que Hollywood corra pra direção oposta e desista de lançar seus filmes num mercado tão potente.

Por essas e outras, pode ficar cada vez mais difícil o surgimento de franquias ricas, capazes de entreter com emoção ao mesmo tempo que questiona valores sociais. A China pode tanto sustentar quanto fazer um mal danado ao mercado, já carente de profundidade.