O Filho de Mil Homens (2025) - Crítica do Filme de Daniel Rezende estrelado por Rodrigo Santoro O Filho de Mil Homens (2025) - Crítica do Filme de Daniel Rezende estrelado por Rodrigo Santoro

O Filho de Mil Homens (2025) | Crítica do Filme | Netflix

O Filho de Mil Homens, dirigido por Daniel Rezende e baseado no romance de Valter Hugo Mãe, chega à Netflix com a proposta de transformar em cinema uma narrativa marcada pela solidão, pela formação de novas famílias e pela procura por um lugar no mundo. Estrelado por Rodrigo Santoro, o filme adapta a prosa simbólica do autor português com uma combinação de realismo mágico, contemplação e imagens cuidadosamente construídas. Confira a crítica.

O Filho de Mil Homens

Laços afetivos e busca por pertencimento

Crisóstomo, vivido por Santoro, é um pescador que atravessa a vida com um desejo silencioso: formar uma família. Quando encontra o jovem Camilo, interpretado por Miguel Martines, surge a possibilidade de preencher esse vazio afetivo. A chegada de Antonino (Johnny Massaro) e Isaura (Rebeca Jamir) amplia essa rede, criando um núcleo familiar formado por personagens que compartilham traumas, preconceitos e expectativas frustradas. O filme acompanha essa formação afetiva enquanto retrata uma vila litorânea onde tradições rígidas e intolerância moldam o cotidiano.

Rezende opta por um ritmo lento e contemplativo, com longos silêncios, cortes prolongados e momentos de introspecção. A fotografia destaca a paisagem marítima, a luz refletida na água e as cores suaves que evocam um tom quase onírico. Esse cuidado estético, porém, influencia diretamente a experiência narrativa: há momentos em que as imagens parecem assumir protagonismo maior do que o desenvolvimento emocional dos personagens. A história avança de forma sensível, mas nem sempre aprofunda as dores internas que movem a trama.

Os elementos de realismo mágico — conchas luminosas, brilhos sutis, passagens oníricas — funcionam como extensões simbólicas do texto original. Embora reforcem a atmosfera lírica, algumas dessas escolhas parecem ornamentais, distanciando o espectador de conflitos que exigiriam maior intensidade dramática. A abordagem dos temas sociais, como discriminação e repressão, é presente, mas tratada de maneira contida. Situações envolvendo orientação sexual, violência simbólica e intolerância surgem mais como lembretes poéticos do que como enfrentamentos diretos.

O elenco sustenta a carga emocional do filme. Rodrigo Santoro conduz Crisóstomo com serenidade e vulnerabilidade, equilibrando dureza e delicadeza de forma convincente. Johnny Massaro entrega uma atuação contida, atravessada por inquietação e insegurança, contribuindo para a tensão interna do personagem Antonino. Miguel Martines traz leveza à narrativa, enquanto o núcleo secundário — incluindo Juliana Caldas e Grace Passô — reforça as dinâmicas da comunidade e seus choques culturais.

O Filho de Mil Homens (2025) - Crítica do Filme de Daniel Rezende estrelado por Rodrigo Santoro

A trilha sonora de Fábio Góes se destaca ao preencher as lacunas deixadas pelos diálogos. Suas composições criam um espaço emocional que sustenta a atmosfera meditativa proposta por Rezende, especialmente nos momentos silenciosos que estruturam grande parte da narrativa.

Crítica: vale à pena assistir O Filho de Mil Homens na Netflix?

O Filho de Mil Homens é um filme que valoriza a contemplação e o simbolismo, apostando na ideia de que pertencimento é algo construído. A estética cuidadosa e a mensagem afetiva dão força ao projeto, mesmo que a abordagem emocional nem sempre alcance a profundidade sugerida por sua proposta literária. O resultado é um drama sensível, guiado por performances sólidas e uma direção que privilegia a poesia visual, ainda que isso reduza, em alguns instantes, o impacto dramático.