Atualmente (janeiro de 2022) disponível no Prime Video da Amazon, o filme O Farol tem atraído muitas atenções tanto por sua proposta quanto por ser um projeto do diretor de A Bruxa, Robert Eggers.
A trama do filme coloca um jovem vivido por Robert Pattinson (The Batman) indo trabalhar num farol juntamente com o velho Thomas Wake (Willem Dafoe). Lá, o trabalho pesado e solitário irá testar todos os limites da convivência entre esses dois homens, onde o topo do farol é o mais cobiçado prêmio do local.
Leia nossa crítica, escrita pelo Diego, neste link.
O final explicado de O Farol
Ao final, temos uma sensacional cena inspirada em O Iluminado (1980), onde o velho Thomas impede que o jovem Thomas vá embora num barco, quebrando o transporte com um machado para logo em seguida perseguir o personagem de Pattinson até a casa, onde travam uma sangrenta batalha corporal. O resultado disso é o velho morto, e o jovem finalmente atinge o topo do lugar, o farol, onde tem contato com aquela fortíssima fonte de luz.
De imediato, a reação de Howard justifica toda a fissura de Wake pelo farol, uma vez que ele demonstra sentir sensações incríveis de prazer, o que acaba também sendo sua ruína: o garoto tropeça escadaria abaixo e termina o final sendo devorado pelas gaivotas.
Mitologia grega em O Farol
Uma interpretação muito interessante de ser colocada é a da mitologia grega permeando os personagens. Nela, o jovem Thomas é a personificação de Prometeu, que no mito foi um titã que roubou o fogo dos deuses para dividir com a humanidade. Aqui, o rapaz não apresenta essa intenção altruísta em relação ao farol cuidado pelo velho, mas é fato que ele deseja tomar aquele conhecimento pra si e esse desejo vai se tornando cada vez maior à luz de toda a loucura crescente no enredo. A punição de Prometeu? Ser devorado diariamente por aves, tal qual acontece com Thomas ao menos uma vez, mas não sabemos o que ocorre no dia seguinte após o final.
Digo isso porque a noção de passagem do tempo acaba se tornando bastante confusa a partir do momento em que o garoto mata, numa cena pesadíssima, uma das gaivotas que o incomodava. É a partir daí também que as coisas passam a dar ainda mais erradas com a chegada da tempestade.
Mas o que diabos são essas gaivotas?
Bom, o próprio Thomas Wake nos responde essa no filme, onde ele diz que se trata da alma de cada um dos faroleiros mortos, e que jamais o garoto deveria se meter com as gaivotas (custou caro). Para validar essa tese, observe que uma das aves está caolha quando o jovem Thomas encontra o ex-companheiro de Wake morto, também com um olho apenas.
Esses acontecimentos trazem à tona mais uma clara inspiração de Robert Eggers para o filme, que é Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock.
Voltando à mitologia grega de O Farol, o velho Thomas Wake poderia muito bem ser a personificação de Proteus, filho de Poseidon. Em muitos momentos o idoso mostra conhecimento futuro dos acontecimentos, uma das habilidades do deus marinho. Mas a característica mais determinante talvez seja a da metamorfose, ou seja, a capacidade de se transformar em outras criaturas.
Nessa perspectiva, o velho Thomas poderia muito bem ser a sereia que aparece para o jovem em diversos momentos. Vale lembrar que o próprio longa materializa o velho se transformando em criaturas marinhas em passagens distintas do filme.
Isso é tudo? Claro que não!
Como já está claro na filmografia de Robert Eggers, a porcentagem de interpretação deixada exclusivamente para o expectador é muito alta, então não se limite a esse ou outros “final explicado” para determinar sua experiência com esse filmaço.