O terror O Demônio do Alasca (No Tears in Hell), novo longa do diretor Michael Caissie, mergulha nas profundezas do horror humano ao revisitar a história real de Alexander Spesivtsev — assassino em série russo que, nos anos 1990, chocou o mundo por seus crimes de canibalismo e tortura. Com roteiro assinado por Caissie e Alexander Nistratov, o filme chega à Netflix como uma experiência perturbadora que flerta com o realismo mórbido e o terror psicológico. Confira a crítica do filme de terror:
A trama de O Demônio do Alasca
Ambientado no início dos anos 1990, o filme apresenta Alexander (Luke Baines), um homem que vive com a mãe (Gwen Van Dam) em um ambiente isolado e decadente no Alasca. Sob uma espessa camada de neve e desespero social, mãe e filho atraem pessoas até sua casa com promessas de ajuda e abrigo, mas o que se segue é uma sucessão de abusos e assassinatos. A dupla transforma o lar em um verdadeiro inferno, onde vítimas são mantidas em cativeiro e servem de alimento em rituais de canibalismo.
Embora o título e o cenário remetam ao norte americano, a inspiração vem diretamente da Rússia pós-soviética. Spesivtsev, o verdadeiro assassino que inspirou a história, viveu na cidade de Novokuznetsk e, entre 1991 e 1996, foi responsável pela morte de dezenas de pessoas. O filme adapta livremente esses fatos, transportando o horror real para um contexto cinematográfico sombrio e quase distópico.
O retrato de um pesadelo humano
Michael Caissie evita recorrer ao sobrenatural, optando por um horror puramente humano. O diretor constrói o filme como uma crônica da degradação moral e social de uma região abandonada à própria sorte. O ambiente congelado reflete a ausência de empatia e a ruína de uma sociedade pós-colapso, em que a pobreza e o isolamento transformam o homem em fera.
Luke Baines oferece uma atuação que equilibra calma e brutalidade. Seu Alexander é um predador que alterna gestos de gentileza e explosões de violência, sempre envolto por uma frieza que o torna imprevisível. Gwen Van Dam, no papel da mãe cúmplice, entrega uma presença desconcertante — ora protetora, ora conivente, como se a linha entre inocência e insanidade tivesse desaparecido há muito tempo.
O filme não poupa o espectador: as cenas de tortura, canibalismo e necrofilia são filmadas com realismo e desconforto, utilizando efeitos práticos e ângulos que reforçam o impacto da violência. Caissie mantém o ritmo lento, focado na rotina dos crimes e no colapso psicológico dos personagens, o que torna a experiência sufocante.
Uma história real que parece ficção
A produção encerra com uma sequência de flashcards que revelam a base factual da narrativa: Spesivtsev foi condenado por assassinatos em série cometidos com a ajuda de sua mãe, Tatiana. O número exato de vítimas nunca foi confirmado, variando entre 20 e 80 pessoas. O filme chega a sugerir que o assassino teria sido libertado em 2022 — algo que contrasta com registros oficiais, segundo os quais ele permanece internado em um hospital psiquiátrico.
Ao explorar esses elementos, O Demônio do Alasca se insere na linha tênue entre o documentário e a ficção. O resultado é um estudo sobre a banalidade do mal e sobre como a negligência das autoridades permitiu que a violência se estendesse por anos.
Crítica de O Demônio do Alasca: vale à pena assistir ao filme de terror e true crime?
O Demônio do Alasca é um terror que dispensa monstros sobrenaturais para revelar o abismo da natureza humana. Com uma estética fria, atuações intensas e uma direção que aposta na imersão psicológica, o filme de Michael Caissie entrega uma experiência brutal, que desafia o espectador a encarar o real como o verdadeiro horror.
O longa é indicado para quem aprecia narrativas baseadas em crimes reais e para quem busca no cinema de terror uma reflexão sobre a fronteira entre a insanidade e a sobrevivência. Mesmo difícil de assistir, é um retrato incisivo de um dos capítulos mais sombrios da história criminal moderna.