A adaptação de O Chamado da Floresta (2020), dirigida por Chris Sanders, tenta atualizar o clássico de Jack London para um público contemporâneo. No entanto, a produção enfrenta um dilema evidente: ao apostar pesadamente no uso de CGI para dar vida aos animais, especialmente ao cão Buck, o filme cria uma distância que impacta diretamente a imersão do espectador. A proposta de aproximar o público das emoções do protagonista canino acaba provocando o efeito inverso, tornando a performance digital marcadamente artificial. Leia a crítica do filme disponível no Disney+ e Netflix:
O que acontece em The Call of the Wild
A trama acompanha Buck, um cão de vida confortável no sul dos Estados Unidos durante a Corrida do Ouro do Yukon. Após ser sequestrado e vendido, ele chega ao Alasca e passa a integrar a equipe de trenós comandada pelo carteiro Perrault, vivido por Omar Sy. Nesse percurso, Buck cruza com John Thornton, interpretado por Harrison Ford, um homem isolado que busca na natureza uma forma de lidar com perdas pessoais profundas. A relação entre os dois se torna o eixo emocional da narrativa, tensionada pela presença de Hal, papel de Dan Stevens, cujas ambições ameaçam a segurança da dupla.
Embora a história carregue elementos clássicos do gênero de aventura, o filme esbarra no modo como representa seu protagonista digital. A expressividade exagerada de Buck, criada para tornar o personagem mais acessível ao público, acaba lembrando mais um avatar animado do que um animal inserido no ambiente natural que o filme tenta exaltar. Dessa forma, o impacto estético das locações e da fotografia de Janusz Kaminski se perde diante das intervenções constantes da computação gráfica.
A experiência se torna ainda mais curiosa porque o CGI, apesar de funcional, impede que a narrativa atinja a sensação de autenticidade esperada de uma jornada sobre sobrevivência e instinto selvagem. Buck é apresentado com movimentos, reações e trejeitos que dialogam mais com produções animadas do que com um drama de aventura. Essa escolha estética torna difícil para o público se conectar plenamente ao universo retratado.
Por outro lado, Harrison Ford entrega uma interpretação sólida. Mesmo contracenando majoritariamente com uma criatura digital, o ator sustenta a carga emocional de Thornton com intensidade e carrega a relação central com convicção. Seu desempenho reforça uma fase da carreira marcada por papéis mais introspectivos e menos associados ao heroísmo clássico que dominou sua filmografia.

Crítica: vale à pena assistir O Chamado da Floresta no streaming?
Ao final, O Chamado da Floresta se mostra uma adaptação que busca equilíbrio entre espetáculo visual e emoção, mas não alcança esse ponto. A comparação com Togo, produção da Disney que aborda temática semelhante com mais precisão, é inevitável. Enquanto Togo encontra seu tom, O Chamado da Floresta permanece dividido entre a tecnologia e o peso dramático da história que pretende contar.