Dirigido por Vathanyu Ingkawiwat, O Caixão de Vidro (Tomb Watcher, 2025) chega à Netflix Brasil ampliando o catálogo de produções de terror tailandesas. A trama gira em torno de Cheev (Thanavate Siriwattanagul), que vê sua vida mudar após a morte da esposa, Lunthom (Woranuch Bhirombhakdi). Livre para viver com a amante, Rossukhon (Arachaporn Pokinpakorn), ele acredita estar prestes a desfrutar de um futuro confortável. Leia a crítica do terror.
Entretanto, a fortuna deixada por Lunthom vem com uma condição incomum: o corpo da falecida deve permanecer na casa, em um caixão de vidro, por 100 dias. A convivência forçada com o cadáver gera tensão crescente, especialmente quando estranhos acontecimentos sugerem que a mulher não está completamente em paz.
O Caixão de Vidro: Entre o psicológico e o sobrenatural
O filme mistura elementos de horror psicológico com toques sobrenaturais. Enquanto Rossukhon tenta lidar com a presença constante do caixão, eventos perturbadores se acumulam, levantando a dúvida central da narrativa: Lunthom estaria mesmo assombrando o casal, ou tudo não passa de manifestações da culpa que consome Cheev e Ross?
Essa ambiguidade permeia a maior parte do filme, criando momentos de desconforto e tensão. Há cenas que brincam com a percepção da realidade, como quando o espírito de Lunthom parece atravessar a tela da TV para se materializar no quintal, reforçando o aspecto onírico do terror.
Moralidade e vingança em conflito
Um dos pontos centrais da narrativa está no embate entre as três personagens. Lunthom, ainda após a morte, parece buscar retribuição. Rossukhon, por outro lado, é retratada como alvo preferencial da fúria sobrenatural, mesmo não sendo a responsável direta pela tragédia. Já Cheev, a peça-chave da situação, permanece à sombra dos conflitos, o que levanta discussões sobre justiça, culpa e moralidade.
Essa dinâmica revela um forte viés moralista no roteiro. Enquanto o filme constrói a amante como figura vulnerável, é sobre ela que recai a maior parte do peso da narrativa, deixando a figura do marido, o real articulador do conflito, em segundo plano. Essa escolha contribui para a sensação de punitivismo direcionado, um aspecto que gera debates sobre a perspectiva adotada pelo diretor.
Recursos visuais e momentos de impacto
Embora a narrativa tenha elementos discutíveis, O Caixão de Vidro aposta em cenas visuais fortes para criar impacto. Sequências com insetos, unhas quebradas e imagens ligadas à degradação física são usadas para provocar desconforto, explorando fobias comuns. Uma cena específica, que envolve necrofilia, reforça o caráter perturbador do longa e gera divisões entre o público quanto à necessidade de certas escolhas visuais.
Além disso, o filme utiliza bem o espaço da casa como elemento narrativo. O caixão centralizado, transparente, cria uma sensação constante de vigilância, como se a presença de Lunthom se impusesse sobre os vivos. Essa escolha reforça a atmosfera opressiva da história e mantém a tensão mesmo em cenas aparentemente calmas.
Culpa, herança e aprisionamento
A herança, mais do que um recurso de trama, funciona como metáfora para o aprisionamento emocional das personagens. Cheev, Rossukhon e até mesmo Lunthom parecem presos a uma relação marcada por traição, ressentimento e desconfiança. O caixão de vidro simboliza a impossibilidade de enterrar o passado — literalmente e figurativamente.
Ao manter o corpo exposto por 100 dias, a narrativa força os personagens a confrontarem suas escolhas e sentimentos. É nesse ponto que o filme encontra um de seus aspectos mais interessantes: a ideia de que certos segredos e mágoas persistem, mesmo quando parecem encerrados.
Crítica: O Caixão de Vidro (Tomb Watcher) é bom?
O Caixão de Vidro (Tomb Watcher, 2025) combina terror psicológico e elementos sobrenaturais para explorar temas como culpa, vingança e aprisionamento emocional. Apesar de contar com boas soluções visuais e sequências impactantes, o filme adota um viés moralista que direciona a narrativa de forma controversa, colocando a amante no centro do conflito enquanto o marido permanece parcialmente isento.
Para quem busca um terror que mistura dilemas humanos e manifestações sobrenaturais, o longa oferece uma experiência instigante, ainda que desigual em sua execução.