Dirigido por Derek Cianfrance e estrelado por Channing Tatum, O Bom Bandido (Roofman, no original) transforma a insólita trajetória de Jeffrey Manchester — o homem que assaltava redes de fast food entrando pelos telhados — em uma cinebiografia de tons entre o drama e a comédia. O longa, que teve estreia em festivais e agora compõe a programação nas bilheterias do cinema, busca equilibrar entretenimento e reflexão, ainda que nem sempre consiga manter esse equilíbrio. Confira a crítica do filme:
A história real que inspirou o filme O Bom Bandido
Jeffrey Manchester foi um ex-oficial da reserva do Exército dos Estados Unidos que, entre o fim dos anos 1990 e início dos 2000, realizou uma série de assaltos a franquias de fast food em diversos estados norte-americanos. Seu método — invadir os estabelecimentos pelo telhado — lhe rendeu o apelido de “Roofman”, o homem do telhado. Preso e condenado a 45 anos de prisão, Manchester conseguiu escapar e passou meses escondido dentro de uma loja da Toys “R” Us, vivendo secretamente no espaço entre o teto e as prateleiras.
O filme acompanha essa jornada em detalhes, mostrando como Jeffrey (Tatum) alterna entre momentos de introspecção, tentativas de reconstruir laços familiares e o improvável romance com Leigh (Kirsten Dunst), funcionária da loja que desconhece sua verdadeira identidade.
Um estudo de personagem com ritmo irregular
Derek Cianfrance, conhecido por filmes como O Lugar Onde Tudo Termina, tenta aqui um formato mais acessível, centrando-se em um protagonista contraditório. O Bom Bandido é tanto uma história de crime quanto um retrato de solidão e arrependimento. Channing Tatum entrega uma performance segura, equilibrando o carisma do “homem comum” com a vulnerabilidade de alguém que tenta justificar escolhas erradas.
Porém, a decisão de Cianfrance e do co-roteirista Kirt Gunn de narrar cada passo da trajetória de Manchester torna o filme longo e, por vezes, repetitivo. A vida escondida dentro da loja — parte mais curiosa da história real — rende momentos de humor e inventividade, mas a narrativa perde força à medida que se divide entre a fuga, o romance e o drama familiar.
Elenco forte, mas subaproveitado
Além de Tatum e Dunst, o elenco conta com LaKeith Stanfield, Peter Dinklage, Ben Mendelsohn, Uzo Aduba e Juno Temple. Todos ajudam a construir um universo rico em figuras excêntricas, embora com pouco tempo de tela. Stanfield, em especial, oferece camadas ao personagem Steve, o amigo veterano que compreende as motivações de Manchester, mas sua participação acaba diluída em um roteiro que prioriza o protagonista em quase todas as cenas.

Entre o real e o simbólico
Um dos momentos mais comentados ocorre nos créditos finais, quando imagens reais de noticiários sobre o caso de Manchester são exibidas ao lado dos nomes do elenco. As reportagens tratam o criminoso com curiosa simpatia, descrevendo-o como um “cara legal”. A escolha de incluir esse material provoca reflexão sobre a maneira como a mídia e o cinema lidam com diferentes figuras criminosas — especialmente quando são homens brancos carismáticos — e como a empatia do público pode ser moldada por essa narrativa.
Crítica de O Bom Bandido: vale à pena assistir ao filme?
O Bom Bandido é um filme que se destaca mais pela história que conta do que pela forma como a conta. Cianfrance oferece uma cinebiografia visualmente envolvente, mas evita mergulhar nas contradições sociais e psicológicas do personagem. O resultado é uma obra que oscila entre o humor e o drama, sustentada pela atuação carismática de Channing Tatum, que transforma um ladrão improvável em um homem em busca de redenção. Mesmo com suas irregularidades, o filme cumpre o papel de apresentar ao público uma das histórias mais inusitadas já registradas no noticiário policial norte-americano.