Dirigido por Scott McGehee e David Siegel, O Amigo (The Friend, 2024) é uma adaptação do romance vencedor do National Book Award escrito por Sigrid Nunez. O longa, estrelado por Naomi Watts e Bill Murray, combina drama e humor para abordar o luto, a solidão e a inesperada conexão entre uma mulher e um cachorro deixado por um amigo que tirou a própria vida. Disponível no catálogo do Prime Video, o filme retoma temas recorrentes da dupla de diretores, conhecidos por explorar relações humanas com delicadeza e sobriedade. Confira a crítica do filme:
A história de O Amigo
Na trama, Iris (Naomi Watts) é uma escritora nova-iorquina que tenta equilibrar sua rotina profissional e emocional quando recebe a notícia da morte de Walter (Bill Murray), seu amigo e mentor. Walter era um renomado autor, três vezes casado, e dono de um enorme Dogue Alemão chamado Apollo. Em seu testamento, ele deixa o cão aos cuidados de Iris — uma tarefa que parece impossível, já que o prédio onde ela mora não permite animais de estimação.
Sem saber exatamente o que fazer, Iris decide acolher Apollo, movida por um misto de lealdade e curiosidade. Aos poucos, percebe que o cachorro, assim como ela, está de luto. Apollo passa os dias deitado na cama, cercado pelos pertences do antigo dono, e sua tristeza silenciosa desperta em Iris uma empatia que ela não consegue direcionar aos humanos ao seu redor.
Enquanto tenta organizar um livro póstumo com as cartas e anotações deixadas por Walter, Iris se envolve com as três ex-esposas do amigo, com sua filha (Sarah Pidgeon) e com a própria memória do escritor — mas é em Apollo que encontra o espelho de suas emoções. O vínculo entre os dois se torna o centro emocional do filme.
A força da relação entre Iris e Apollo
McGehee e Siegel conduzem O Amigo com o mesmo olhar preciso que marcou obras anteriores como What Maisie Knew e Montana Story. O foco está menos na trama e mais nas nuances da convivência entre Iris e Apollo. As cenas em que eles dividem o espaço, muitas vezes em silêncio, comunicam mais do que os longos monólogos sobre a dor da perda.
O Dogue Alemão — interpretado por Bing — se torna uma presença fundamental, quase humana. Seus gestos e expressões revelam uma tristeza que reflete o estado interno da protagonista. Naomi Watts, por sua vez, entrega uma performance contida, equilibrando a racionalidade de uma mulher que tenta seguir em frente com a vulnerabilidade de quem carrega o peso da culpa e da ausência.
Quando o filme se afasta do essencial
Embora o vínculo entre Iris e Apollo concentre o melhor de O Amigo, o filme por vezes se dispersa. As sequências que envolvem a organização do livro de Walter ou as interações com as esposas do escritor não têm o mesmo impacto dramático e acabam interrompendo o ritmo. O roteiro, assinado pelos próprios diretores, busca um tom literário que nem sempre funciona em tela.
Ainda assim, McGehee e Siegel evitam transformar O Amigo em um melodrama típico sobre perda e superação. A relação entre Iris e Apollo é tratada como uma metáfora para a amizade, o amor e a aceitação das limitações humanas diante da morte.

Crítica de O Amigo: vale à pena assistir ao filme no Prime Video?
O Amigo é mais eficaz quando se concentra na intimidade entre seus dois protagonistas — uma mulher e um cachorro que compartilham o mesmo vazio. Naomi Watts oferece uma atuação sensível, enquanto Bill Murray surge em participações breves, mas significativas, como o homem cuja ausência move toda a narrativa.
No fim, McGehee e Siegel constroem um filme sobre o poder do afeto silencioso e sobre a capacidade de cura que pode surgir das relações improváveis. Mesmo irregular em ritmo e estrutura, O Amigo encontra sua força no que tem de mais simples: o consolo que nasce da companhia mútua entre seres que aprenderam a conviver com a perda.