O amadurecimento de Lucifer

Quando se é o todo poderoso governante do inferno, a última coisa que você imagina que precisa é amadurecer. Afinal, perder tempo com preocupações tão fúteis não leva a lugar nenhum. Mas o que fica claro no primeiro episódio da segunda temporada é que Lucifer passou por esse processo. Não apenas como personagem, mas também como série. Claro, os principais elementos do último ano ainda estão presentes, mas parece que enfim podemos perceber um senso de propósito.

Na primeira temporada, Lucifer é o anjo caído que cansou da vida no inferno e decidiu jogar tudo para alto e viver uma vida sem regras em Los Angeles. Ainda com o orgulho ferido, ele não esconde seus sérios problemas com Deus. Mas aos poucos, tomado por sentimentos antes exclusivos dos humanos, ele começa a perceber que nem tudo é preto no branco. Na reta final temos, de certa forma, o início desse processo de evolução do personagem. Nessa nova temporada o drama familiar ganha um novo elemento: a mãe de Lucifer. E com isso temos a expansão do universo da série.

O grande problema ainda é a dinâmica do bandido da semana. Em certos momentos não passa de uma âncora que tira a dinâmica da trama. Poderia existir um pouco mais de espaço para desenvolver outros elementos mais interessantes. Mas agora com a presença da mãe de Lucifer – e possivelmente de outros anjos – esse lado sobrenatural pode se destacar. Ainda assim é bom para acompanhar mais desse novo lado do personagem, bem mais sincero consigo mesmo. O telespectador também descobre mais da relação dessa família nem um pouco normal, com Lucifer preso entre os problemas dos criadores do universo.

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Tom Ellis segue impecável em seu papel, tanto na caracterização como na atuação (alternando bem entre o canastrão e o sensível). Ele é de fato o coração da série. E a cena final onde toca piano enquanto canta um clássico de Jimi Hendrix poderia se repetir mais vezes. Ainda assim outros personagens merecem destaque. A detetive Chloe está disposta a abandonar sua curiosidade sobre a origem de Lucifer, reconhecendo que ele sempre está presente quando ela precisa e isso já é o suficiente. Ainda assim fica a expectativa de quando ela vai descobrir que aquele papo de diabo e inferno não é loucura.

Amenadiel, que aparentemente terá mais importância na trama, começa a passar pelo mesmo processo vivido por seu irmão. Passar tanto tempo ao lado dos humanos começou a afetar seus poderes. Também tem seus problemas amorosos com Maze (que sumiu a apareceu do mais profundo nada). Ela que agora busca descobrir qual o seu papel no mundo. Dois personagens secundários que podem render bons momentos no futuro.

A Dra. Linda segue seu papel de trazer toda essa discussão do divino x humano para um lado mais racional. É durante as sessões de terapia que Lucifer deixa cair a máscara da arrogância e mostra seu lado mais humano, por assim dizer. Como os problemas familiares dele alcançaram um novo patamar, a presença dela passa a ser ainda mais importante. Ainda tem a novata Ella Lopez, cientista forense da polícia que carrega uma crença dividida entre a religião e a ciência. São elementos que enriquecem ainda mais o texto da série.

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Os fãs dos quadrinhos ainda podem reclamar do quesito adaptação, que o personagem está distante da versão apresentada apresentada pela Vertigo e etc. Mas isso vai se tornando menos importante com o passar dos episódios. Lucifer agora apresenta sua identidade como série, algo que faltou na primeira temporada. E com o acréscimo dos novos elementos, o céu é o limite para a produção. Ou o inferno, se você achar melhor.