Nefarious, dirigido por Cary Solomon e Chuck Konzelman, é um thriller psicológico com temática cristã que se destaca por sua proposta centrada no diálogo entre um psiquiatra e um condenado à morte. Baseado no livro A Nefarious Plot, de Steve Deace, o filme aposta em um roteiro focado em discussões filosóficas e espirituais, explorando o conceito de possessão demoníaca sob uma perspectiva religiosa; confira a nossa crítica.
A narrativa concentrada em um único ambiente
Grande parte da trama se desenvolve dentro de uma sala de interrogatório, onde o Dr. James Martin, interpretado por Jordan Belfi, é convocado para avaliar a sanidade de Edward Wayne Brady, vivido por Sean Patrick Flanery. O personagem condenado afirma estar possuído por um demônio chamado Nefarious, que assume o controle das conversas, conduzindo o diálogo para temas como livre-arbítrio, moralidade e o papel do mal na sociedade contemporânea.
A escolha por um único ambiente não é apenas uma solução orçamentária. Essa decisão favorece a construção de tensão e permite que o foco permaneça nas performances e nos argumentos apresentados. O formato lembra peças teatrais, com longas trocas verbais e ausência de cenas de ação ou efeitos visuais elaborados.
Um roteiro com enfoque apologético
O roteiro de Nefarious prioriza o discurso. Boa parte das falas de Nefarious tem como objetivo explorar dilemas éticos e existenciais, com foco em temas que frequentemente aparecem em debates cristãos contemporâneos, como aborto, suicídio, niilismo e a existência do mal. O personagem do psiquiatra é utilizado como contraponto cético, o que permite ao roteiro articular os diferentes pontos de vista.
Essa estrutura deixa clara a intenção apologética da obra. O filme assume sua função como veículo de mensagem, utilizando a narrativa de possessão como metáfora para a batalha espiritual que, segundo a perspectiva dos autores, ocorre diariamente na vida moderna.
Atuação e construção de personagem
Sean Patrick Flanery entrega uma interpretação com variações de tom que reforçam a instabilidade emocional de seu personagem. A alternância entre momentos de calma e explosões de raiva serve como recurso dramático para sustentar a tensão da cena.
Jordan Belfi, no papel do psiquiatra, representa o espectador cético, sendo gradualmente desafiado pelos argumentos do detento. Essa dinâmica permite que o filme explore conflitos de crença e descrença ao longo da trama.
Temática religiosa como elemento central
Nefarious foi concebido como um filme voltado ao público cristão. Toda a condução narrativa reflete essa escolha. A abordagem sobre o bem e o mal segue um caminho teológico, com referências explícitas à Bíblia e a conceitos como tentação, condenação e salvação.
A ausência de efeitos visuais ou de cenas de violência gráfica indica que o foco não é criar um horror visual, mas sim um terror psicológico pautado em ideias. O roteiro busca provocar o espectador por meio de questionamentos sobre moralidade pessoal e responsabilidade espiritual.
A produção e o orçamento enxuto de Nefarious
Com um orçamento modesto, estimado em cerca de US$ 1 milhão, o filme foi rodado em locações limitadas. Esse fator se reflete na direção de arte e no design de produção, com recursos concentrados em iluminação, maquiagem e direção de atores.
A escolha por uma ambientação reduzida favoreceu o controle dos custos e reforçou a estética de confinamento. Essa característica também contribui para o clima de tensão contínua, sustentado pelo embate verbal entre os dois protagonistas.
A recepção e a polarização do público
Após sua estreia em abril de 2023, Nefarious obteve desempenho modesto nas bilheterias, mas alcançou boa resposta entre o público cristão e em plataformas de streaming. A crítica especializada, em sua maioria, apontou o caráter evangelizador da obra como um fator limitador de apelo para audiências mais amplas.
Já o público-alvo reagiu de forma positiva ao conteúdo e à mensagem central. Essa polarização de opiniões reforça a natureza segmentada da produção, que desde sua concepção foi direcionada a um grupo específico de espectadores.
Considerações finais: Nefarious é bom?
Nefarious é uma produção que aposta no diálogo e na argumentação como principais ferramentas narrativas. Sua estrutura é pensada para provocar reflexão sobre temas éticos e espirituais, com foco claro no público cristão. A proposta de baixo orçamento é assumida pela direção, que opta por soluções simples e concentradas na atuação.
A experiência oferecida pelo filme depende diretamente da disposição do espectador em acompanhar uma narrativa com forte viés teológico, construída com base em debates filosóficos e morais.