Bradley Cooper coloca o coração em sua estreia como diretor e emplaca um hit difícil de ser esquecido com Nasce uma Estrela
A sessão terminou agorinha. Diferente de outros textos já publicados, neste vou deixar o crítico um pouco de lado e permitir que a emoção genuína de um espectador que acabou de vivenciar um daqueles shows inesquecíveis assuma o controle.
Que filme foi esse?! Nasce uma Estrela é uma daquelas produções que faz a gente lembrar por que gostamos tanto de cinema. Adaptado inúmeras vezes para as telas – a versão mais recente é de 76, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson –, o longa emociona ao pegar uma história simples e a encher de sentimento.
Grande mérito, sem dúvida, para Bradley Cooper (O Lado Bom da Vida). Em sua estreia na cadeira da diretor, Cooper surge como um profissional que parece já ter muitos anos de estrada. Cheio de belíssimas escolhas estéticas e espaço para improvisações, a impressão é de que sua câmera, sempre muito íntima dos protagonistas, quer abraçá-los, contemplando cada momento do grande encontro que o filme promove.
A história de amor entre Ally (Lady Gaga), uma talentosa cantora resignada por não alcançar o sucesso, e Jackson Maine, um cantor alcoólatra e dependente químico que já viveu dias melhores, é mostrada com tanta honestidade que fica impossível não embarcarmos e torcermos pelo casal. Cooper entende a importância de construir uma relação que conquiste o espectador através das sutilezas, flagrando com suas lentes – e uma fotografia que dá ao romance uma aura divina – momentos poderosos, como um olhar que muda tudo ou um pequeno gesto de carinho que mostra o que não precisa ser dito.
Seu filme costura essas passagens na cadência certa, jogando em cada cena elementos que preparam a cena seguinte. Desafio você a não se arrepiar ao ver Ally entrar no palco para cantar com Jackson pela primeira vez. Inclusive, é nesse exato momento que o filme nos arrebata definitivamente. E a própria canção Shallow, tocada na cena, já sugere esse mergulho arrebatador.
Por sinal, as canções, de forma muito inteligente, fazem rimas com o que estão vivendo os personagens nos diversos pontos ao longo da trama. E vamos combinar: são excelentes canções! O que contribui para que o filme nos envolva com tanta fluidez. Se elas não funcionassem, certamente nossa experiência perderia grande parte do seu impacto.
Impacto esse que para ser efetivo dependia fundamentalmente da performance de seu elenco. Estreando como atriz, Lady Gaga não decepciona, sumindo por completo de cena para dar lugar à sua personagem, que brilha como uma veterana, com espaço para alfinetar o próprio show business do qual faz parte. Ela só não brilha mais por que o inspirado diretor também co-protagoniza o longa. Bradley Cooper faz aqui a maior atuação de sua carreira, emprestando para seu trôpego Jackson características como vulnerabilidade, doçura e diversos tons escuros que fazem com que nos importemos profundamente com o personagem, mesmo que esse insista em flertar com a escuridão. Fechando meus destaques, o filme conta ainda com a marcante presença de Sam Elliot (do ótimo drama independente The Hero), que, na pele de seu irmão Bobby, divide uma complexa relação com o protagonista.
Dito tudo isso, e ainda empolgado com o show, afasto-me do palco para cantar junto e me misturar aos fãs do mundo inteiro que têm aplaudido com entusiasmo esse sensível trabalho. Muitos filmes se propõem a falar de amor, mas poucos conseguem esse nível de conexão com a plateia. Embalado por lindas canções, como todo grande romance deve ser, Nasce uma Estrela é um daqueles eventos inesquecíveis que, de tempos em tempos, entra em cartaz nos cinemas, renovando nossos votos com a sétima arte.