Ficou bem claro durante as campanhas promocionais e entrevistas do elenco que a nova temporada de Narcos não teria espaço para enrolações. Se o primeiro ano da série cobriu ao longo de 10 episódios cerca de uma década da vida de Pablo Escobar, a segunda temporada teria o mesmo número de episódios para mostrar um período de tempo consideravelmente menor. E essa situação de pressão acabou por revelar o que a produção tem de melhor.
A nova temporada começa aonde a última terminou, com Pablo e seus Sicários fugindo de La Catedral. Um diálogo entre os membros do Grupo de Buscas mostra que a fama de Escobar havia atingido níveis absurdos. Um deles garante que o chefão do tráfico é imune a tiros e tem o poder de renascer das cinzas. Essa mistura de mito e realidade cerca toda a temporada, sendo mostrada pelos mais variados pontos de vista. Se ante vimos o nascimento de um rei, agora vamos presenciar as inúmeras nuances de sua queda.
Pablo não está mais em uma posição privilegiada, embora ele não queira enxergar o contrário. Trocando de casas, fugindo no meio da noite e rastejando por túneis, o cerco vai se fechando cada vez mais. Vendo uma chance de ouro, os inimigos mortais dele unem forças para colocar um ponto final nisso tudo. Judy Moncada, o Cartel de Cali e os irmãos Castaño formam o grupo que ficou conhecido como Los Pepes (Perseguidos por Escobar).
Ao longo dos episódios vamos acompanhando o colapso de um império. Laboratórios sendo fechados, rotas de tráfico sendo desfeitas e o consequente fim do dinheiro. E como a incessante narração do agente Murphy (Boyd Holbrook) não nos deixa esquecer, Pablo Escobar não gosta de ser encurralado. Abusando ainda mais da violência, ele toma decisões que complicam ainda mais as coisas. Os elementos de ação mais presentes na segunda temporada são essenciais para manter a história sempre em alta, com poucos momentos para relaxar.
Além da troca de tiros, acompanhamos um lado mais silencioso (e muito mais sujo) da guerra contra o tráfico. Afinal cada passo dado no campo de batalha é produto do que foi decidido nos bastidores. Honrando a verdadeira premissa da série, os episódios mostram mais do envolvimento dos EUA nisso tudo. E de como não existe muito espaço para essa coisa de mocinho e bandido. Narcos é inteligente ao mostrar que ambos os lados ultrapassaram os limites na busca de seus respectivos objetivos. Los Pepes, por exemplo, surgem de um apoio decisivo do governo norte-americano.
Além de um ótima história, a temporada também conta com ótima atuações. Wagner Moura está mais a vontade na pele de Pablo Escobar, entregando uma atuação que alterna bem entre momentos de calma e aqueles mais explosivos. O episódio que ele se esconde na casa do pai é um dos melhores da série. Tata, vivida por Paulina Gaitan, ganhou mais profundidade e importância na trama. Uma mulher que sabe que o marido cometeu atos monstruosos, mas que deixa claro que nunca se arrependeu de casa e constituir família com ele. Pedro Pascal também ganhou mais espaço e tornou-se uma peça chave para o futuro de Narcos.
Mas se o presente de Narcos é excelente, existe uma incógnita em seu futuro. Agora que Pablo Escobar está morto (não existe spoiler de fato histórico, né?), será que as novas temporadas confirmadas pela Netflix terão um personagem tão bom quanto ele? Ao que tudo indica, o foco será o Cartel de Cali. Que até parece ser interessante. E por mais que a série não fosse sobre Pablo, e sim sobre o tráfico de drogas, é impossível não imaginar que ele vai deixar saudade. Afinal, uma grande história é formada por grandes personagens.