Mussum: O Filmis Mussum: O Filmis

Mussum – O Filmis retrata o samba e a TV brasileira

Filmes biográficos brasileiros geralmente tendem a ser bastante conservadores. Infelizmente, a maioria das produções nacionais com grande apelo comercial evita abordar temas sensíveis e procura não ofender ninguém. Mussum – O Filmis é mais um exemplo dessa tendência, sendo um filme que, embora seja interessante do ponto de vista histórico da cultura brasileira, falha em explorar os conflitos e dramas do famoso comediante.

O longa narra a vida do comediante e sambista Mussum em três fases: sua infância, início da vida adulta e o auge da fama. Cada uma dessas fases é retratada por atores talentosos, destacando-se Yuri Marçal no papel do jovem Mussum e Ailton Graça brilhando ao interpretar a versão mais conhecida do personagem.

A grande surpresa e o ponto alto do filme residem na história menos conhecida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, nome de batismo do comediante, como sambista. Nacionalmente famoso por sua participação no quarteto dos Trapalhões, Mussum iniciou sua carreira na música e, por acaso, tornou-se humorista. Esse início de sua trajetória é retratado de forma envolvente, especialmente em relação às suas interações com ícones do samba, como Alcione e Cartola.

Em alguns momentos, a direção e roteiro parecem querer reunir uma espécie de “Vingadores” da música e da televisão brasileira, tudo isso entregue com excelência pelo elenco. O filme cresce sobretudo nos momentos de comédia, com o texto apresentando sacadas inteligentes. Agora, na parte dramática, infelizmente, fica a desejar. Isso ocorre porque a produção tende a evitar temas delicados, como a questão racial do protagonista, seu vício em bebidas alcoólicas e os conflitos entre os Trapalhões. Por sinal, a questão racial é superficialmente abordada no início e, de forma um tanto forçada, é retomada em um discurso brega no final.

A trama se concentra principalmente em dois aspectos: a carreira do ator e sua comovente relação com sua mãe, interpretada por Neusa Borges. De acordo com o que é retratado, Mussum – O Filmis parece sugerir que a vida do comediante não tinha conflitos ou dramas suficientemente interessantes para sustentar um longa. Os detalhes que envolvem o cenário artístico da época são a parte mais envolvente do filme, especialmente para aqueles que reconhecem os nomes do samba e da televisão que aparecem no decorrer da história.

Mussum – O Filmis é uma biografia que traz uma história pouco conhecida sobre a icônica personalidade Antônio Carlos Bernardes, porém não tão cativante. Os momentos em que o filme explora o cenário midiático da época são os mais bacanas de acompanhar, especialmente para quem está familiarizado com os nomes do samba e da televisão que são retratadas. Apesar da falta de drama e de alguns momentos um tanto forçados, o longa de Silvio Guindane se destaca por suas boas atuações e uma trilha sonora maravilhosa recheada de samba. É uma recomendação válida para aqueles que desejam explorar um pouco mais da história cultural e midiática do Brasil.