Com todo o hype dos pôsteres (porque não assisto trailer) de Mulher-Maravilha 1984, eu esperava um filme com ação forte, uma personagem evoluída, mais bruta – ainda mais com aquela armadura de Cavaleira do Zodíaco, mais parecida com o que eu vi nos Novos 52. Porém, fiquei surpresa. Não foi nada do que esperei, e isso me deixou até que feliz. Vamos aos fatos.
A história começa com uma Diana criança, tentando ganhar uma prova em Themyscira e sua tia lhe dando uma lição, que você já sabe que é basicamente o plot do filme. Pulamos para o futuro, com uma obviamente solitária protagonista. Ela é exibida em um restaurante sozinha, morando sozinha, dormindo sozinha, sem amigues, nada. Só ali, vivendo cada dia. Quando a câmera passeia pelo seu apartamento, vemos várias lembranças do passado – inclusive o relógio de Steve Trevor. Somo apresentados sutilmente ao “vilão”, Maxwell Lord (Pedro Pascal) e, logo em seguida, à Bárbara, interpretada por Kristen Wiig (fiquei feliz de ela ter saído do papel de sempre). É encontrada uma relíquia que parece ser inútil, mas concede um desejo para cada pessoa que o pede. E é a partir desse objeto que a trama vai se desenrolar de uma maneira inicialmente lenta, dando espaço para cada personagem se apresentar e entendermos as suas motivações, quem são e o que fazem. Depois, pulamos para um ritmo mais frenético, de busca, de perseguição e descobertas intrigantes, para irmos para um bom terceiro ato, que fecha a lição de moral iniciada no filme: a ganância humana e a verdade que devemos viver.
Sinceramente, é um filme bem super-heroína. “Como assim?”, você se pergunta. Algumas cenas de salvamento divertidas de assistir, personagens que vão evoluindo e mudando, aquele exagero quadrinesco em ações que se misturam com como seria na vida real, tudo com enquadramentos e o exagero das HQs. Tudo isso eu adorei. As cenas de ação poderiam melhorar um pouco, mas foram 10 vezes mais criativas do que no primeiro filme, então já fiquei satisfeita. O CGI na personagem da Mulher-Leopardo ficou até que bom, eles usaram recursos bem bobos para ajudar a disfarçar a falta de realismo, como cenas escuras e muito movimento de luta, mal dando tempo de reparar nesses defeitos à primeira vista.
A aparição de Steve Trevor (Chris Pine) tem uma argumento forte, assim como as outras loucuras que acontecem, e seu arco com Diana (Gal Gadot) é interessante. O casal possui ainda uma boa química, suas cenas juntas são boas. Porém, aqui vai provavelmente o maior defeito: na tentativa de passar a lição de destaque, “viva a sua verdade”, eles tornaram a Mulher-Maravilha uma pessoa desinteressante, que vive por anos em luto pelo mesmo homem e não aproveita absolutamente nada da vida pelo fato de ele estar morto. Sua motivação é: o amor que ainda sente por Steve. E achei isso péssimo. Nada de errado em ela ainda estar apaixonada, mas se passaram muito anos, e ela não continuou a vida dela, não de verdade. Diana parou no tempo. A cena do apartamento dela mostra isso bem. Ela se tornou apenas mais uma personagem que vive em função de um homem, ou, no caso, a falta dele. Ela meio que parece estar seguindo em frente, quando começa o filme, mas logo você vê que não. Ela vai a restaurantes sozinha, não faz amizades no trabalho, não possui alguém em seus dias. A Mulher-Maravilha acaba perdendo muito do interesse que poderíamos ter nela por conta disso, sendo o plot mais fraco. O que não deveria acontecer.
Pascal entrega um antagonista muito bom e convincente. Ele consegue transparecer o carisma necessário de um charlatão, com suas promessas vazias, sua ganância, sua vontade de ter sempre mais e mais, pois, assim, – é meio que um spoiler – ele preencheria algo que falta nele. Eu acho que poderiam ter escolhido outro ator para fazer seu filho, Alistair, pois, enquanto Max transmite todas as emoções de um pai atormentado, a criança parece um robô. Obviamente um fruto não maduro o suficiente para estar em um filme de tão grande porte, mas é o que tem pra hoje.
A personagem de Wiig tem diversas camadas, que vão sendo construídas aos poucos. Ela é uma mulher desengonçada, extremamente nerd, do qual todo mundo se esquece, pois não parece ter uma personalidade marcante (eu super seria amiga dela, real, ela é uma fofa). Em diversos pontos é apontado uma certa inveja que ela sente de Diana, uma mulher linda, inteligente e que parece ter o mundo aos seus pés, sem saber que essa pessoa que ela tanto quer ser é apenas uma casca vazia que vaga por aí esperando que, por acaso, o homem que tanto ama volte. Através do seu desejo, ela vai se transformando, se tornando quem sempre quis, e ainda assim, nunca está satisfeita, assim como Maxwell. Os dois querem o topo do topo, mas de maneiras diferentes.
A fotografia é impressionante, real. Tá muito lindo. A trilha sonora, impecável, sempre voltando ao tema da Mulher-Maravilha nos momentos de ação e mesclando com outras notas, dando um certo diferencial dependendo do momento – se a briga está tranquila ou não (se é que existe briga tranquila). Como falei das coreografias de lutas, elas estão mais criativas e elaboradas. Você já vê uma Diana mais experiente e confiante com seus poderes e suas armas.
No fim, Mulher-Maravilha 1984 é um filme gostoso de assistir, bem divertido, dinâmico, extremamente blockbuster sessão da tarde e que traz uma mensagem que é 100% Mulher-Maravilha, o que deixou um quentinho no meu coração. Os três arcos se mesclam mais organicamente, na minha humilde opinião, e você vai sair satisfeito do cinema. Aliás, há algumas referências aos quadrinhos originais da personagem que vão fazer você vibrar do cinema.
E, ah, a armadura do pôster: não espere muito por ela. Só isso que eu tenho a dizer.