A humanidade já sobreviveu a inúmeros fins do mundo com o passar dos anos. A virada do milênio, cálculos matemáticos sugerindo o fim, o calendário Maia e alguns um tanto quanto muito reais como a pandemia do coronavírus (que acreditem ou não, ainda estamos passando por isso). A recente pandemia muito provavelmente foi ignição para um retorno das produções de filme de catástrofe, como o novo de Adam McKay Não Olhe Para Cima, que muito foi comentado e discutido como um retrato falado da sociedade atualmente, que se recusa a acreditar no bom senso e dá ouvidos a idiotas. Sendo sátiras ou ficções científicas o fato é que podemos esperar uma nova leva desse tipo de tema nas telas. E eis que temos Moonfall – Ameaça Lunar.
Dirigido pelo maestro da catástrofe e destruição Roland Emmerich, (2012, Dia Depois de Amanhã, Independence Day), Moonfall nos traz a premissa de que a lua está fora de sua órbita e em rota de colisão com a Terra, no qual a ex-astronauta Jo Fowler (Halle Berry), encarregada de uma função muito importante dentro da NASA, acredita que existem meios de impedir esse terrível acontecimento, mas só uma pessoa acredita nela, o falido e também ex-astronauta Brian Harper (Patrick Wilson). E numa expedição mais improvável possível, temos um plano de viagem até a lua com 2 ex-astronautas e um teórico da conspiração que se autointitula como Doutor KC Houseman (John Bradley).
Poderíamos dizer que com todo o show de fogos de artifício e a plasticidade da coisa que, no fim, foi uma experiência divertida e que valeu as duas horas investidas nessa aventura maluquinha, contudo, infelizmente acaba sendo um desafio ficar de frente com essa história e embarcar junto com a jornada desses personagens. É difícil ter o mínimo de empatia ou interesse pelo que está acontecendo quando tudo é falso e encarado como uma terça-feira fora da rotina, onde até o mísero dos cenários é feito com tela verde. A vista do quintal da casa de Brian é chroma key, um filme completamente feito em estúdio e que diversas vezes é bem mau recortado, o que já puxa o espectador pra fora da história instantaneamente por se tratar de algo muito visível. E no que diz respeito as reações dos personagens diante de ocasiões extremamente sérias, é de ficar risível como é tratado com naturalidade a iminência do fim dos tempos. Literalmente, parece o fim do expediente em uma cena específica onde Fowler fala ao microfone (numa tentativa de emular um discurso como em Independence Day, mas falha miseravelmente em todos os aspectos).
De todos os artifícios para que nos importemos com os personagens e suas histórias, somos levados ao mais clichê e mau trabalhado de todos: todos tem uma família onde há um gigantesco elo mesmo que o filme não nos mostre em nenhum momento isso, apenas diga e espere que o espectador aceite. Existe uma pressa imensa em mostrar a destruição e a apoteose do evento, e, simplesmente, a obra esquece de desenvolver minimamente qualquer relação entre os personagens. Ou seja, no clímax do terceiro ato nós não estamos investidos o suficiente para embarcar em qualquer que seja o arco dramático ou redenção existente. Além de que, todo o elenco de apoio é tristemente mau aproveitado, a ponto de uma porta ter mais expressões e emoções.
No que diz respeito às cenas de destruição, não é impactante em nenhum momento. Visualmente, é fato que existe uma concepção interessante do caos e da desordem, os planos abertos mostrando as grandes metrópoles sendo destruídas ainda é uma cena impactante quando isso cai do imaginário para a tela de cinema, porém, morre aí. Do que adianta sequências como essa se não estão aliadas a elementos que a engrandeçam? A trilha sonora é inexistente, poderia ser esquecível mas servir às cenas em momentos pontuais, infelizmente, se limita a ser agudos orquestrados tirados de qualquer royalty free do YouTube.
Roland Emmerich quis fazer de Moonfall – Ameaça Lunar uma ode à sua filmografia, juntando Independence Day no quis diz respeito a uma ameaça alienígena, 2012 e O Dia Depois de Amanhã na catástrofe planetária e visual impactante, mas onde essas obras fizeram acertos Moonfall erra rudemente. É como meu amigo Victor Hugo me falou: “É uma salada de frutas onde todas elas estão estragadas”.