O filme Minha Culpa (Culpa Mía, 2023), dirigido por Domingo González e disponível no Prime Video, adapta o primeiro volume da trilogia de Mercedes Ron, fenômeno entre leitores de romance jovem adulto. A produção espanhola tenta equilibrar drama, paixão proibida e cenas de ação, mas o resultado é um amontoado de referências conhecidas que dificilmente se unem de forma coesa. Leia a crítica:
Minha Culpa: um enredo entre o drama juvenil e a tensão proibida
A história acompanha Noah (Nicole Wallace), uma jovem que precisa deixar sua vida para trás quando a mãe se casa com um empresário milionário. Ao se mudar para a mansão do novo padrasto, ela conhece Nick (Gabriel Guevara), o filho rebelde e impulsivo dele. A relação entre os dois começa marcada por rivalidade e provocações, mas logo se transforma em atração intensa — ainda que envolta em um tabu inevitável.
O filme explora essa relação entre os meios-irmãos com o tom de um romance proibido, apostando em trocas de olhares, brigas e reconciliações rápidas. A dinâmica é construída a partir de arquétipos recorrentes do gênero: o “bad boy” misterioso e a protagonista que esconde traumas do passado. A partir daí, Minha Culpa alterna entre o melodrama adolescente e sequências de ação que lembram produções como After e Velozes e Furiosos.
Mistura de gêneros e excesso de referências
A direção de Domingo González tenta unir elementos de romance erótico, thriller e drama familiar, mas a combinação resulta em uma narrativa instável. O filme insere corridas de rua, segredos familiares e mensagens ameaçadoras enviadas a Noah, sem que essas subtramas se integrem de maneira orgânica. O vilão é previsível, e o desfecho, construído em tom de suspense, carece de verossimilhança.
A estrutura narrativa, repleta de clichês, reforça o caráter de “prazer culposo” da obra. O público acompanha uma sucessão de eventos que oscilam entre o exagero e o inverossímil, o que, paradoxalmente, torna o filme difícil de abandonar. Ainda que o roteiro abuse de frases de efeito e situações forçadas, a curiosidade sobre o destino do casal mantém o interesse até o final.
A superficialidade dos personagens
Nicole Wallace e Gabriel Guevara assumem seus papéis com entrega, mas o material que têm em mãos limita qualquer tentativa de aprofundamento emocional. Noah é retratada como uma adolescente dividida entre a rebeldia e o medo de repetir erros do passado. Já Nick encarna o arquétipo do jovem impulsivo que usa a violência e o charme como escudos. Ambos são moldados por traumas mal resolvidos, mas o roteiro prefere concentrar-se na tensão física em vez de desenvolver suas motivações.
Os personagens secundários servem apenas como apoio ou obstáculo pontual. O namorado deixado para trás, os amigos e até o padrasto de Noah aparecem e desaparecem conforme a conveniência da trama, sem papel consistente na construção da história.
Um fenômeno literário que não sobrevive à transposição
Enquanto livro, Culpa Mía conquistou o público por meio da escrita direta e do apelo emocional. No cinema, entretanto, a adaptação enfatiza o aspecto visual e sensual da narrativa, enfraquecendo a complexidade dos sentimentos. O resultado é um produto que busca agradar fãs do gênero, mas dificilmente convence quem espera um desenvolvimento mais sólido.
Crítica: vale à pena assistir Minha Culpa no Prime Video?
Minha Culpa tenta condensar o drama adolescente, o romance proibido e o suspense em um único filme, mas acaba refém de seus próprios excessos. O longa é uma colagem de influências reconhecíveis, com momentos de intensidade e outros de constrangimento, que reforçam sua identidade de prazer culposo. Mesmo repleto de falhas, mantém um certo fascínio — não pelo que mostra, mas pelo desejo de ver até onde essa relação impossível pode ir.