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Mergulho Noturno: um filme trash que se leva a sério

Quando eu era criança, muitos coleguinhas admitiam um medo aleatório: o de que algo vá sair do fundo da piscina em que estamos nadando e nos ataque – normalmente tubarões, piranhas ou jacarés (exceto eu, que tinha medo que uma galinha alienígena saísse do ralo e me afogasse, mas isso é história para outro dia). Então, a premissa de Mergulho Noturno foi algo que me chamou atenção. Será, afinal, que iriam explorar esse pavor esquisito que temos, que provavelmente é alimentado por narrativas de animais psicopatas que fogem completamente da noção, de piscina e fazer um terrorzão trash sobre isso? Bem… foi quase. Bem, bem quase mesmo. Quase nada.

Baseado no curta homônimo de 2014, criado por Rod Blackhurst e Bryce McGuire, Mergulho Noturno apresenta uma sinopse interessante sobre uma piscina supostamente assombrada que mata seus nadadores sob condições misteriosas. Ela não assassina qualquer pessoa, mas saber quem vai e quem fica é algo que só assistindo para descobrir. A bicha é seletiva, sim.

A família Waller está tendo que lidar com o diagnóstico de esclerose múltipla do patriarca da família, interpretado por Wyatt Russell, um ex-jogador de beisebol, e precisa encontrar uma casa apropriada para que a condição não piore, de preferência que possa ser adaptada às necessidades dele. É quando encontram a casa “perfeita”: preço baratinho pro orçamento reduzido e com uma piscina, que atrai o sr. Waller de uma forma irresistível. A partir daí, coisas estranhas vão acontecendo quando a família vai nadar, exceto com o pai, que parece cada vez mais disposto, como se a doença estivesse lentamente sumindo, até que fica perigoso demais e é necessário que medidas extremas sejam tomadas. Ou não.

A verdade é que Mergulho Noturno peca demais em criar atmosferas misteriosas ou aterrorizantes, acertando apenas em um momento – ao meu ver -, quando a filha faz um mergulho noturno sozinha. Desculpa, foi mais forte que eu. Enfim, ela foi nadar à noite. A história correria de forma até tediosa, se não fossem as tosqueiras que vamos encontrando no caminho e que me fizeram gargalhar com vontade na sala de cinema. O que não é bem um problema, pois isso me fez gostar do filme. Adoro um bom trash, mesmo que Mergulho Noturno não se veja assim e se leve a sério por vezes diversas.

Mergulho Noturno traz um quê de conto de fadas em sua narrativa, buscando a justificativa em cantos até inusitados, entretanto entregam de bandeja logo de cara, e quando o momento da revelação do que há por detrás do mistério da piscina assassina chega, a única reação possível é “ora, ora, temos um xeroque rolmes aqui”. E a criação da atmosfera nauseante, feita para aumentar o suspense, acaba perdendo o seu efeito. Inclusive, há muitos cortes de cena que fazem com que a entrega seja muito aquém do esperado. No geral, a direção de Bryce McGuire meio que sabota o próprio filme sem querer.

O uso da câmera na piscina é excelente, e durante os momentos de tensão – que nem são tão tensão assim, mas não acho justo chamar de relaxamento -, ela sabe exatamente como se comportar para que nós, o público, consiga entender perfeitamente o que está havendo, sem aquele tremelique todo que alguns diretores adoram, para disfarçar que, sei lá, não sabem fazer aquilo. E em um filme como Mergulho Noturno, é muito necessária a compreensão do que acontece debaixo d’água.

A trama perde, em várias cenas, tempo com coisas que não encaixam na história – e não falo de momentos de descontração. Por exemplo, insistirem sobre a batida de bola que o sr. Waller dá no dia em que a filha nasceu, sendo que a relação dele com os filhos é bem negligenciada, mesmo para mostrar que ele mal se importa, ou que, como passou tanto tempo fora de casa, não sabe se conectar mais com eles, ou algo assim. Se queriam vender que ele era um marido exemplar e um excelente pai, falharam (e parece ser muito essa a intenção em Mergulho Noturno), dando assim destaque para o velho tropo do pai bosta e a mãe que carrega a família toda nas costas. Sem ela, eles não teriam saído do canto. E você pode me apontar que é porque o cara tá com esclerose múltipla, mas sabemos que já devia ser assim.

No fim, Mergulho Noturno não faz a gente mergulhar na sua história, nossa suspensão da realidade dá uma lutada ali, mas diverte e dá para passar o tempo tranquilamente sem sentir ódio profundo do que está passando em tela. Com menos de duas horas de duração, o filme rapidamente passa – graças a Deus.