Por vezes, o suspense atrelado às vivências e aos dramas da vida é um chamariz para produzir bons filmes no gênero. Alex Garland, que ficou conhecido pelos ótimos Ex-Machina e Aniquilação, volta aos cinemas com o lançamento de Men – Faces do Medo.
A priori, o cineasta, que assina a direção e roteiro do filme, propõe em Men uma discussão sobre suicídio e abuso, com doses de patriarcado, sexismo e o surreal a partir de símbolos pagãos europeus.
Na trama, após uma tragédia pessoal, Harper, interpretada pela sempre boa Jessie Buckley, decide ir sozinha para um retiro no meio de um belo campo inglês, na esperança de encontrar um lugar para se curar. Mas alguém (ou algo) da floresta ao redor parece estar perseguindo-a. O que começa como um pavor fervente se torna um pesadelo, habitado por suas memórias e seus medos mais sombrios.
Após situar a personagem de Buckley sobre seu trauma, que se torna uma ferida aberta e atormentadora para ela, Garland apresenta todo o contexto em que a história do filme irá se passar: uma casa em um pequeno e lindo vilarejo do interior da Grã-Bretanha, para começar com uma dinâmica estranha com Harper em um cenário de terror.
Uma escolha interessante do diretor foi trazer o ator Rory Kinnear para o projeto de uma maneira intrigante: ele interpretando quase todos os homens que Harper encontra no vilarejo.
A decisão do diretor é estranha, mas, ao mesmo tempo, pode colocar questões no entorno da personagem de Buckley: ela não percebe por que enxerga todos os homens da mesma forma? No entanto, o único diferente, interpretado por Paapa Essiedu, é o homem que lhe deu o seu trauma.
A partir de figuras e simbologias pagãs, Garland cria um cenário bizarro de misticismo, o que gera um problema. O não desenvolvimento do que é apresentado, aliado ao ápice do terceiro ato, deixa mais perguntas do que respostas. Não que seja algo ruim, pois este é o tipo de produção que deseja que o espectador pense, repense e discuta sobre o que viu em tela.
Mesmo assim, observo como um ponto problemático, pois me parece que nem tudo se encaixa ao final. Ainda que o diretor coloque um terror mais corporal em sua parte final, Men – Faces do Medo deixa lacunas sobre questões que o próprio filme produz – como se o espectador é que devesse chegar com algum conhecimento prévio para conseguir, possivelmente, o que procura.
O valor de produção em Men – Faces do Medo é ótima. Não somente, a direção de fotografia de Rob Hardy, carregada com um verde abundante da natureza, acaba se ligando com o propósito que Garland busca retratar no final do filme.
Possivelmente, esse filme vai deixar mais pessoas aborrecidas do que contentes. Não que seja ruim, longe disso. Mas, levando em conta os trabalhos anteriores do diretor, é sacanagem abordar tanta simbologia interessante, mas sair de fininho no final.