Algo que os jogos indie sempre fazem com primor é trazer à vida os jogos que as grandes empresas se recusam a fazer por algum motivo. A Nintendo não quer fazer um novo Pikmin? Tudo bem, você pode jogar o excelente Tinykin. Ou talvez aproveitar o melhor que metroidvanias e roguelikes podem ter com Unsighted e Hades? Não só o mercado indie é o responsável atuar por ressuscitar gêneros e criar novos, mas também é a esperança dos órfãos de sequências que nunca vão acontecer. E deixa eu te contar: eu sou órfão de Rhythm Heaven e fico muito feliz que Melatonin existe.
Por mais que não seja tão famosa quanto Super Mario ou Pokémon, Rhythm Heaven sempre foi um nome relativamente conhecido nos consoles da Nintendo. Com sua proposta mais livre de jogo rítmico, cada título trazia vários minigames musicais com suas próprias mecânicas. Seguir o ritmo de cada música e aprender rapidamente os controles era essencial para conseguir bons resultados (e se divertir!). Eu não poderia recomendar mais qualquer jogo da série, mas, com mais de 6 anos desde o último, muita gente estava sentindo falta.
Bons sonhos com Melatonin
Melatonin é o primeiro de alguns jogos que devem sair nos próximos anos que tenta suprir essa falta de jogos musicais diferentes. É clara a inspiração e a vibe de RH do começo ao fim, mas ele também tem a sua própria personalidade e estilo. Sonhos são o foco do jogo: cada preocupação de um adolescente se transforma em um minigame surreal e uma ótima canção. Pagar compras no shopping, usar aplicativos de namoro, ou até lidar com o vulcão do estresse: tudo é desculpa para uma nova música. Cada fase tem a sua própria mecânica, que são “mixadas” ao fim de cada noite de sono, com uma nova música misturando todas elas.
Cada nova noite de sonhos também traz controles mais complexos, com mais botões ou ritmos mais complexos. Entretanto, se tem uma coisa que Melatonin faz melhor até do que sua inspiração são as opções de acessibilidade. É fácil configurar dicas visuais, ou aumentar a janela de acerto de cada botão para ajustar a complexidade de cada minigame facilmente. Com tantas mecânicas diferentes, é natural que até mesmo os mais experientes tenham alguma dificuldade em alguma delas. Essa é uma melhoria de qualidade de vida que eu queria ver mais jogos do gênero fazendo de forma tão boa quanto aqui.
É uma pena que, enquanto essas mecânicas aproveitam o mundo mágico dos sonhos, não acho que a parte visual se aproveitou da mesma maneira. Por mais que seja bem bonita essa abordagem “lofi hip hop radio – beats to study/relax to“, eu esperava mais cores e formas do que algo tão uniforme às vezes. Isso também se estende a algumas das músicas, que sempre focam em melodias mais pop ao invés de explorar outros estilos musicais. Por outro lado, isso dá uma unidade muito interessante para todo o pacote, que dura poucas horas sem contar as versões difíceis de cada fase.
No ritmo da música
Melatonin é um pequeno pacote feito com muito carinho que vai divertir todos que gostam de um bom jogo rítmico. Eu ainda não sei se ele é o sucessor (ou a alternativa indie) definitiva para o clássico da Nintendo, mas é uma experiência que vale a pena ter se é o seu tipo de jogo. Ele também abre a porteira para mais jogos do gênero que vêm nos próximos anos, como Bits & Bops e Rift of the Necrodancer. O que eu sei é que os órfãos de Rhythm Heaven como eu podem ficar tranquilos para o futuro — e, por que não?, começar sonhando mais um pouco, não é?