Entre alívios e lamentos, série brasileira da HBO Max serve como um grito de ira contra o preconceito
A HBO Max lançou o 5º episódio da série brasileira Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente, ambientada no final da década de 1980 e início de 1990, sob o contexto da epidemia da AIDS e como ela afetou especialmente a população brasileira no período. Carregado de emoções, este que também é o último capítulo trouxe encerramento para o arco narrativo dos carismáticos personagens, encabeçados por Johnny Massaro como Nando.
Recapitulação do episódio 5 de Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente
O episódio se inicia com um monólogo de Nando, que grava uma fita de despedida para Raul (Ícaro Silva), temendo pelo pior uma vez que o estoque da medicação para o tratamento da AIDS (conhecido como AZT) acabou há algum tempo. Seu estado de saúde está cada vez pior, e sua imunidade “ladeira abaixo”, conforme ele mesmo confessa à Lea (Bruna Linzmeyer).
No entanto, é uma marca dentro da história desta série a resiliência de Nando após cada um dos baques sofridos, então ele passa a nutrir suas forças para mobilizar manifestações contra a postura da Fly Brasil, que submeteu funcionários a exames compulsórios, resultando em demissões e aposentadorias forçadas. Além de ter sido vítima dessa prática, ele acaba encabeçando as manifestações e se tornando um verdadeiro leão na luta pela causa – que busca não apenas a responsabilização da Fly Brasil, mas também trazer visibilidade às pessoas LGBTQIA+ pois são as que mais sofrem com a cegueira voluntária do sistema.

Como Nando contraiu o Vírus?
Neste ponto, a série acerta bastante em dar luz ao problema como sempre fez, e não é diferente no episódio 5, o último da minissérie HBO. Todo o drama em relação aos personagens é legítimo também, e é nessa vertente que descobrimos enfim, ainda que não tenha tanta importância assim, o como Nando acabou contraindo o vírus. Foi ao se relacionar com o jogador de futebol Caio, que o rejeitou e se distanciou após a descoberta da doença, que Nando acabou contraindo o HIV.
Ironias a parte, por ter sido tratado com preconceito por parte do ex amante, essa sequência de Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente é importante na afirmação de Nando como uma pessoa realizada como pessoa, marcando assim um ótimo desenvolvimento de personagem por parte dos criadores da série – cabendo aqui mais um elogio à atuação de Johnny Massaro.
Já num estado extremamente debilitado, temos a grande virada no episódio, quando a Fly Brasil passa a ceder à pressão e busca um acordo para que as manifestações se encerrem. Sabendo da possível armadilha que viria daquele lado, Nando concorda com um acordo caso envolvesse o fornecimento da medicação para cada pessoa que necessita de tratamento – objetivo conquistado no final das contas, mas às custas de muitas vidas perdidas por conta da demora das autoridades responsáveis, alimentadas pelo preconceito devido à caracterização da AIDS classificada como uma espécie de “Câncer Gay” e outros termos absurdos tanto para a época quanto para os dias atuais.
Crítica final de Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente: Nando morre?
O final de Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente acaba sendo especialmente emocionante, pois a narrativa se encaminhava para o final clichê no qual o personagem gay precisa morrer para que lições sejam aprendidas e atitudes sejam tomadas. Porém, para a nossa grata surpresa, Nando aparece vivíssimo no final, dançando e feliz ao lado de todos, mas com a visão constante dos que se foram.
Ainda que bem ambientada e com fortes personagens (em especial o protagonista), a série Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente peca apenas em não distribuir bem o conhecido contexto político dos acontecimentos que dão base à história real, concentrando praticamente tudo na empresa de aviação e se esquecendo que o país já possuía na época um Ministério da Saúde e Presidente da República.
Ainda assim, recomendamos fortemente que todos assistam à produção da HBO, que serve como um grito de que pessoas LGBTQIAP+ não precisam necessariamente serem mártires nas suas história, sejam as reais ou ficcionais. Acima de tudo, precisam estar vivas e serem tratadas com a dignidade de qualquer ser humano.