Sérgio Mallandro é uma figura que foi muito famosa no passado, no Brasil. Já foi príncipe da Xuxa em “Lua de Cristal” (1990), jurado de programa de talentos, apresentador de programa infantil, gravou disco, enfim, já fez de tudo. Mas, como acontece com boa parte das pessoas, uma hora essa fonte seca e é preciso se reinventar. Em Mallandro: O Errado que Deu Certo, Sérgio Mallandro interpreta ele mesmo, buscando apresentar um pouco dessa ideia para vender como uma grande propaganda do que anda fazendo agora, que são os shows de stand up.
No filme, Sérgio está quebrado, não tem mais um centavo. Começa a história sendo assaltado, e chega em casa para ouvir dos filhos, com quem mora, que não tem nada para comer em casa e eles sobrevivem pedindo comida usando os cartões das mães deles (são mães diferentes). A mesa está cheia de contas, a sua agente o abandonou, ele não consegue trabalhar com outra coisa que não seja arte – rola até piadinha com Uber. E a história, em tese, gira em torno de como Mallandro vai dar um jeito de dar a volta por cima e retomar o estrelato, só que, algo acontece e ele não consegue mais dizer seus bordões – que não somente são repetidos à exaustão, como também o próprio Sérgio fica repetindo que eles não servem de nada. E sem eles, Sérgio não é ninguém. Mas, claro, no final ele volta a poder dizê-los e provar que com ou sem, ele ainda é o Sérgio Mallandro.
Sinceramente, “Mallandro: O Errado que Deu Certo” é maçante. O filme tenta te empurrar um drama que poderia ter funcionado muito bem, principalmente com essa coisa do artista mais velho precisar se reinventar, ainda mais longe da televisão, como seria o caso do personagem. Daria para combinar uma comédia mais boba, pois é uma fórmula que funciona bem, mas não é o caso. Aqui, a comédia tenta ir para um lado, a princípio mais absurdo, com coisas cada vez mais doidas acontecendo com ele em sequência – o que poderiam ser boas esquetes, mas não foram.
Sérgio Mallandro tenta demais ser engraçado, com um personagem que, a cada momento, inventa uma marmota diferente para dizer às outras pessoas como se fossem coisas muito profundas, mas não querem dizer nada de verdade, bem coisa de tiozão. Desconfio se os fãs dele achem engraçadíssimo, mas, particularmente, eu sai do cinema bocejando. Há várias referências ao seu passado, tentam revitalizar ali de forma que a nostalgia atinja as pessoas no peito.
Aliás, o filme tenta nos convencer que o cara é um santo, super gente boa, um paizão (exceto pela parte que ele deixa faltar tudo), de forma que os filhos moram com ele e nem querem ir embora quando as mães exigem, já que iam passar necessidade na casa do pai. O filho é um fofo, mas a filha (e todas as outras mulheres que aparecem) é um porre. Foi feita especialmente para ser crítica, praticamente nunca apoiar o pai, sempre alfinetar, jogando sempre na cara do pai que ele devia arranjar um emprego de verdade. É dita até a frase “vai fazer um concurso”. Sério, é intragável. Até quando ela tá apoiando ele, ela não tá apoiando ele.
A participação da Xuxa é bem qualquer coisa, e sinceramente perderam a oportunidade de usar ela como o nosso Morgan Freeman, só que uma versão muito melhor. Tal hora o filme tem a pachorra de comparar a carreira do Sérgio Mallandro com a vida de uma criança moribunda, como se tivessem o mesmo peso. Eu não sei nem como começar a explicar essa parte.
E tudo isso para, no final, fazer propaganda do show de stand up dele. É extremamente frustrante passar por toda essa experiência, que já não é muito boa, e descobrir que foi tudo feito só para vender ingresso.
“Mallandro: O Errado que Deu Certo”, na verdade, só deu errado mesmo.