Mais que amigos, ou Bros, no original, é uma comédia romântica muito fofa sobre duas pessoas solitárias que evitam compromisso a todo custo, mas, ao se conhecerem, percebem que a determinação de se manterem longe de um relacionamento sério não é tão forte quando estão entre eles.
Bobby é um podcaster de sucesso, enquanto Aaron é um advogado que trabalha fazendo testamentos. Só aí já temos uma certa noção do quão diferentes são, aquela pegada gostosinha de desentendimento e que depois se torna um ponto forte quando o casal decide aprender a se relacionar direito. Aliás, os atores têm uma boa química em tela, e fica ainda melhor na parte do conflito em que ambos querem ficar juntos, mas evitam isso por medo do relacionamento, culminando numa cena icônica durante um piquenique, com eles se engalfinhando e… Bom, deixo no ar.
A parte da comédia, aliás, está muito boa, e me tirou muitas risadas. É um humor um pouco mais ácido, mas que equilibra com piadas bobas e de ocasião. O filme traz inúmeras referências da cultura LGBT+, brincadeiras com estereótipos, entre outras coisas para te arrancar um sorriso. A sua contraparte romântica, devo dizer, é muito gostosinha também. Desde a primeira troca de olhares, você já fica na expectativa de quando eles vão começar a perceber que têm sentimentos um pelo outro, e o relacionamento apresentado é relativamente saudável.
O personagem de Bobby é maravilhoso, sendo um homem gay que abraçou completamente a sua identidade de membro da comunidade LGBT+, lutando para que a nossa história seja reconhecida como algo pertencente a todos, à História no geral, que a população preconceituosa possa aprender sobre quem somos de verdade e que a nova geração entenda sua própria importância no mundo. Há muito sofrimento quando falamos em crianças LGBT+, como crescem se odiando, se achando erradas, e a sementinha plantada ali é a de que, não, não tem nada de errado com você. Também que devemos prestar esse suporte aos mais novos, independente das nossas orientação sexual e identidade de gênero.
Aaron traz um outro lado da moeda, o da pessoa mais moderada e que tem medo de mergulhar na história da própria comunidade, evitando, assim, uma possível rejeição da sociedade em si. E essa construção dele como um alguém inseguro sobre se assumir tão abertamente é muito bem trabalhada, assim como o trabalho feito sobre a pressão estética que Bobby sente, principalmente ao lado de Aaron, que é crossfiteiro e possui um daqueles corpos padrões de propaganda de cueca, pois seu corpo é de um homem magro, muito branco, nem um pouco parecido com os tipos que normalmente vê Aaron se interessando. O típico rolê de comédia romântica em que um deles não é padrãozinho e o protagonista fica extremamente inseguro, sem sentir que merece estar ao lado daquela pessoa por não fazer parte do que a sociedade considera como sendo bonito (normalmente, as mulheres na verdade fazem sim e tentam empurrar que não ou vice-versa).
Os outros personagens são maravilhosos e só complementam muito a narrativa de Bobby, com um elenco diverso, todo formado por pessoas que são o que são. Como assim? Uma mulher trans que interpreta uma, soem os tambores, mulher trans! Incrível, né? A resposta é sim, pois sabemos como Hollywood trata essas questões. Inclusive, o próprio filme brinca com isso.
Enfim, Mais que amigos é um filme para ir com seu amorzinho e curtir muitas risadas, além de se derreter com o final amorzinho.
Uma breve observação: Se você pensa “Ah, mas eu sou hétero, não sou o público-alvo”, você está sendo sim homofóbico, tá? O público-alvo do filme são pessoas que gostam do gênero comédia romântica e ponto.
Aliás, digo para quem puder assistir no cinema, que vá, pois não é sempre que temos um filme sobre um casal gay nas grandes telas – não consigo, inclusive, pensar em nenhum de cabeça. E enquanto comédias românticas já possuem um fracasso de bilheteria como sendo algo esperado, sabemos muito bem o que acontece se, do nosso lado, a bilheteria não é tão forte.