No mercado cinematográfico, tem surgido cada vez mais histórias sobre mulheres, escritas e dirigidas por mulheres, com visões únicas sobre universos que já conhecemos. E Mafia Mamma: De Repente Criminosa chega para representar algo batido em diversas produções: a máfia.
Em uma comédia hilária, a trama nos traz uma protagonista que é desengonçada, “sem graça” e que sempre abaixa a cabeça, colocando os outros sempre como prioridade – principalmente homens, como seu marido abestalhado e seu filho, que meio que tem vergonha dela. Ou seja, já começa representando muitas de nós, que aprenderam a ser assim por uma sociedade estritamente patriarcal e machista. Acontece que Kristin (Toni Collette) herdou os negócios do seu avô e vai para a Itália pôr a casa em ordem, porém, não esperava que essa herança fosse ser um império mafioso.
Brincando com uma caricatura da máfia, este projeto diverte bastante. Kristin, um pouco diferente das usuais protagonistas capacho, só precisava de um empurrãozinho para encontrar a mulher que verdadeiramente era por detrás do medo de desagradar e esse incentivo é sim amor, mas não de um macho: o amor-próprio. E o filme ainda brinca com isso. O jeito atrapalhado e espontâneo da personagem a leva a sair de encrencas de forma criativa e engraçada, ganhando o respeito de todo mundo, mesmo que por acidente.
Os personagens são todos carismáticos, interpretando propositalmente estereótipos de mafiosos italianos, e até brincam sobre O Poderoso Chefão. Inclusive, Monica Bellucci apesar de sempre trazer uma personagem mais femme fatale, interpreta Bianca, que era o braço direito do avô de Kristin e se torna o da nova chefe, com uma amizade baseada em confiança mútua e incentivo, deixando de fora piadas comuns sobre amizade entre mulheres como ter uma protagonista que inveja a amiga gostososa.
A trama central gira em torno de Kristin cada vez mais se tornando a chefona da máfia que nasceu para ser, sem precisar seguir os ideais ninguém, ou abaixar a cabeça, ou engolir as expectativas alheias. Ela se torna a própria pessoa e se rodeia de pessoas que lhe dão suporte para esse crescimento pessoal.
Gosto que o longa não tem medo de colocar cenas absurdas para fazer comédia, em um tom muito acertado. O elenco é praticamente todo italiano, salvo poucas exceções, e nem todo mundo fala em ingês no filme, um ponto positivo pra ele, já que normalmente estadunidense quer que todo mundo em todo lugar só fale em inglês.
Apesar de engraçado, leve e criativo, alguns pontos em Mafia Mamma: De Repente Criminosa me desagradaram. Por exemplo, a melhor amiga da protagonista, Jenny (Sophia Nomvete), é uma mulher negra, gorda, muito bem-sucedida – e até aí tudo ótimo, o problema é que a personagem só existe para um propósito: servir à amiga branca. Não sabemos nada dela, além dela ser boca suja, dona de si, quase uma ninfomaníaca (porque nos filmes, uma mulher que sabe o que quer logicamente só pensa em sexo) e é advogada – exclusivamente para servir de conselheira legal a Kristin.
Mafia Mamma: De Repente Criminosa tem uma pegada bem irônica e caricata, isso é claro desde o começo. Ele brinca com filmes românticos e de máfia, incluindo cenas gore feitas claramente não para chocar, mas para divertir – e divertem. Em uma trama que vai escalonando os acontecimentos até o seu encerramento satisfatório, Mafia Mamma: De Repente Criminosa é uma boa comédia, que vai arrancar mais risadas do que qualquer outra coisa e fazer a gente se perguntar porque não temos mais filmes como esse.